terça-feira, 20 de novembro de 2018

Gilvan Cavalcanti: Mudar é preciso

Amanhã (21/11/2018) a executiva nacional do partido, do qual sou filiado, se reunirá para discutir e tomar uma decisão. O tema: ‘Convocação do Congresso Extraordinário para implementar a mudança de nome do Partido e novos Estatutos, aprovado no 19º Congresso Nacional’.

Aproveito o momento para colocar algumas inquietações e duvidas: como é sabido fui um dos que votaram pela mudança do nome de PCB, lá atrás, no idos de 1992. O nome de PPS não era de meu agrado. Junto, com uma grande parte do Congresso de criação do PPS, fui voto vencido. Era uma circunstância concreta de novo tempo, novo mundo: dissolução do campo do “socialismo real”. Fim da bipolaridade e afirmação da globalização. Hoje, vivemos outro tempo: a consolidação da democracia e seus valores dos direitos sociais e civis ampliaram-se.

No Brasil, não foi diferente. Nossa Constituição, cidadã, já é balzaquiana, do romance, A mulher de trinta anos, do escritor francês Balzac (1799-1850), É a mais longa da nossa história. Motivo de muita alegria e comemoração. Mas, ao mesmo tempo, desafios e preocupações. Hoje são tempos de ondas: negação da política, dos partidos, afirmação de nacionalismo, contra o cosmopolitismo, da intolerância. Além de avanço de valores e costumes conservadores, na sociedade e nos agentes públicos. São ondas que devemos conhecê-las, estudá-las e, ao mesmo tempo, unir os democratas radicais para bloqueá-las.

Nessa circunstância, há um tema que tomou conta de dirigentes partidários: retirar o nome de Partido de suas siglas. Assim, o PFL, transformou-se em Democratas (DEM), o Partido Popular (PP) em Progressistas, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), virou MDB. Outros surfaram na onda: Podemos, Rede, Avante, Novo e Patriotas, etc.

Lembrei-me da origem autoritária dessa onda: os teóricos do regime militar de 1964. O Ato Institucional nº 2, de 27/101965. No art. 18 diz: ‘ficam extintos os atuais partidos políticos e cancelados os respectivos registros’. Já o Ato Complementar nº 4 de 20/11/1965, em seu motivo afirma: ‘Delega aos membros efetivos do Congresso Nacional a iniciativa de promover a criação de organizações com atribuições de partidos políticos...’ No art. 13, declara: ‘os nomes, siglas, legendas e símbolos dos partidos extintos não poderão ser usados para designação das organizações de que trata este Ato’. E no parágrafo único diz: ‘E vedada a designação ou denominação partidária’. Eram tempos tenebrosos, de coações.

O tema ressurge em plena democracia, como uma ideia de uma coisa nova, contra a chamada ‘velha política’. Mas, em concreto, como uma resposta equivocada ao sentimento do senso comum, associado aos escândalos da Lava-Jato, envolvendo dirigentes de muitos partidos. Esta onda contou com a colaboração eficiente dos partidos inorgânicos – as mídias antigas e novas -, que substituíram os partidos orgânicos na luta para influenciar o conhecimento do senso comum, como já afirmava o filósofo Hegel (1770-1831), era um ‘conhecimento defeituoso’. Ou como descreveu Gramsci (1891-1937), uma mistura de crenças antigas e novas, religiões, misticismos, etc, historicamente conhecidas.

O jornalista Fernando Gabeira em recente artigo de jornal, referindo-se a frase do cantor Mano Brown: ‘é preciso encontrar o povo’, dirigida ao PT, perguntava: ‘Mas não vale também para o sistema partidário, a academia, a mídia, os especialistas? Como reconciliá-los com o homem comum?’ Mas, não é só ouvir. Também influenciar na correção do ‘conhecimento defeituoso’ Parece-me ser esse o drama da conciliação entre os que não sabem e os que sabem. Portanto, não é suficiente mudar o nome das siglas. Essa relação é mais complexa e a longo prazo.

Especificamente, sobre a mudança de nome do PPS. Não me agrada, Movimento. Em primeiro lugar, já há o MDB e em segundo lugar, o nome ficará ligado ao título do pessoal ligado ao Trump que se articula, mundialmente, com o mesmo nome. Vamos pensar, pensar e agir.
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*É membro efetivo do diretório nacional e do Conselho Consultivo da FAP e editor do Blog Democracia Política e novo Reformismo

3 comentários:

marcos disse...

Além do tráfico internacional que tb se auto denomina O Movimento. Tem certeza que não é gente deles infiltrada aí?

MAM

Unknown disse...

Tb não gosto de Movimento! O importante é definir o que pretendemos expressar.

VAGNER GOMES disse...

Salve Gilvan! Sua contribuição é importante uma vez que o principal ponto político nesse momento é contribuir em reforçar o campo democrático contribuindo num diálogo programático com o Centro.
"Ondas" e modismos sem política enfraqueceram a trajetória da esquerda pós-pecebista. Se eu fosse opinar, defenderia a ideia da Refundação da Centro-esquerda através do Partido Democrático da Esquerda. A designação Esquerda nunca excluiu o campo liberal na tradição do antigo PCB após 1958.
Abraços
Gramscianos do
militante do PSB
Vagner Gomes