- Folha de S. Paulo
Governo Bolsonaro será avaliado pelos resultados econômicos que vier a produzir
Com duas semanas de governo, é difícil separar os erros típicos de um começo de administração, que tendem a reduzir-se à medida que seus integrantes evoluem na curva de aprendizagem, da incompetência intrínseca da gestão, que é alta e tem um caráter mais permanente. Mas nada disso tem muita importância prática.
Por dever, jornalistas acompanhamos com lupa as ruidosas movimentações iniciais do governo e delas tentamos extrair sinais. Alguns são inequívocos. Onyx Lorenzoni, por exemplo, ao promover uma paralisante exoneração em massa de quadros de seu ministério, deixou claro que não está familiarizado com o básico da administração, o que é complicado para quem ocupa a pasta da Casa Civil, responsável por tocar o dia a dia do governo.
O próprio Jair Bolsonaro já deu mostras de que é figura de relevo no núcleo dos despreparados. Sua ignorância em relação àquilo que assina indica que ele não tem muita ideia do que está fazendo.
Não são, contudo, esses primeiros tropeços, pouco importando sua etiologia, que caracterizarão a gestão. Jair Bolsonaro só foi eleito porque Dilma Rousseff promoveu uma das maiores ruínas econômicas da história do país. Sua administração será, portanto, avaliada pelos resultados econômicos que vier a produzir.
A melhor chance de o governo Bolsonaro dar certo é o presidente escolher duas ou três áreas menos estratégicas para transformar num parque de diversões ideológico, dando assim satisfações à sua base
—neopopulistas como ele nunca descem do palanque—, e conformar-se com o papel da rainha da Inglaterra na economia, contendo seus instintos corporativo-estatistas para não atrapalhar muito.
Sem uma reforma convincente da Previdência, o mercado transformará rapidamente toda a confiança que depositou em Bolsonaro em inflação, comprometendo talvez irremediavelmente a gestão e todas as suas bandeiras ideológicas.
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