Extradição de Battisti encerra um caso que assumiu destaque desmedido no debate brasileiro
Às 11h47 desta segunda-feira (14), no horário de Roma (8h47 em Brasília), a superestimada novela Cesare Battisti parece ter conhecido o seu desfecho. Capturado no domingo em Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), o terrorista italiano enfim regressou a sua terra natal, onde cumprirá pena de prisão perpétua.
“É um dia especial. Após quase 40 anos, os familiares podem finalmente dizer que a Justiça foi feita”, afirmou à Folha MaurizioCampagna. Seu irmão, Andrea, morreu em 1979, baleado pelo grupo de extrema esquerda PAC (Proletários Armados pelo Comunismo).
Battisti, hoje com 64 anos, foi condenado pelo envolvimento nesse e em mais três homicídios cometidos nos anos 70, todos na Itália. O terrorista, contudo, mal pagou por seus pecados. Em 1981, fugiu da prisão e abrigou-se na França, no México e, desde 2007, no Brasil.
Visto dessa perspectiva, o caso não deveria provocar alvoroço. Trata-se da história de um criminoso que conseguiu adiar o cumprimento de uma sentença que lhe foi imposta. Não é o primeiro nem será o último roteiro do gênero.
Familiares das vítimas têm seus motivos para celebrar o desenlace, e ogoverno italiano sem dúvida pode comemorar, ainda que tardiamente, a entrega da prestação jurisdicional e o fim de uma pendenga diplomática; as pessoas mais próximas de Battisti, por sua vez, hão de lamentar.
Para além desses núcleos, porém, é difícil entender um envolvimento apaixonado com o caso. E, no entanto, foi exatamente o que se observou aqui no Brasil.
Militantes de esquerda apressaram-se em considerar Battisti um ativista (não um terrorista), elevando-o à condição de perseguido político, como se tal figurino coubesse em alguém condenado por um nação democrática (a Itália) e extraditado por outra (a França, em decisão de 2004).
Movido pelo fervor ideológico, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no último dia de 2010, a poucas horas do fim de seu segundo mandato, autorizou a permanência dele no país —gesto que suscitou desnecessário mal-estar diplomático com a Itália e não trouxe ganho ao Brasil.
A direita brasileira, por seu turno, reagindo à estultice da esquerda, parecia ver na prisão de Battisti uma questão de honra.
Isso explica por que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) se esforçou para assumir protagonismo no capítulo final dessa novela. O italiano surgiria como troféu de um governo que não produziu mais que disparates na política externa.
O voo direto de Santa Cruz para Roma frustrou o governo brasileiro, mas pouco importa. A execução da pena de Battisti nada tem a ver com disputas ideológicas. É apenas, como disse o irmão de uma das vítimas, a Justiça sendo feita.
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