quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

EUA e Europa fecham o cerco ao governo Maduro: Editorial | Valor Econômico

As pressões externas contra o governo de Nicolás Maduro estão chegando ao ponto máximo possível antes da opção de uma intervenção militar aberta - apenas cogitada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A posse de Maduro em 10 de janeiro, após a farsa eleitoral de maio de 2018, incentivou um movimento de reação mais coordenado e com mais amplo apoio internacional do que todas as tentativas feitas anteriormente para que o regime bolivariano aceitasse negociar a volta do jogo eleitoral democrático e da alternância de poderes. Maduro, de novo - e provavelmente até o fim - rejeita terminantemente desapegar-se dos poderes absolutos que usurpou.

A ascensão de Juan Guaidó à Presidência da Assembleia Legislativa, tornada inoperante pela Constituinte inventada pelo governo, é o eixo de nova tentativa de retirar Maduro, desta vez com o objetivo explícito, em primeiro lugar, de instaurar uma dualidade de poderes no país. EUA, União Europeia, Brasil, Colômbia e mais de duas dezenas de nações - China, Rússia, Cuba e Turquia apoiam o governo - exigiram a convocação de eleições limpas e, diante da negativa, reconheceram Guaidó como presidente interino.

Diante da maior crise humanitária do continente e da ruína econômica e social do país, que já expeliram 3 milhões de pessoas, a alternativa, fora de uma intervenção militar, é convencer os militares a abandonarem Maduro à própria sorte e apoiarem a instalação de um regime de transição conduzido por Guaidó. A estratégia, com todos os grandes riscos que implica, é a de provocar um golpe branco dos militares, que garantiriam a transição com Guaidó até novas eleições.

As Forças Armadas são sócias do poder e têm interesses econômicos na preservação de Maduro, pois controlam setores importantes da economia, como distribuição de alimentos, logo boa parte da importação, têm ascendência sobre a PDVSA, única fonte de recursos da nação, e 9 postos no ministério bolivariano. A arma de "convencimento" dos militares usada pelos EUA foi impedir, no que for possível, o ingresso de recursos do petróleo para o governo de Maduro, embora no curto prazo isso aumente a escassez de comida, remédios e tudo o mais com a qual convive a população nos últimos anos.

As sanções americanas tendem a ferir fundo o regime bolivariano. A intenção é se apropriar de todos os recursos advindos do petróleo e sequestrá-los para contas que serão colocadas à disposição de Guaidó e da Assembleia. Os EUA proibiram a compra de bonus soberanos e de empresas do país e se apropriaram dos pagamentos à importação de óleo vindos da Venezuela, bloqueando inclusive os ativos da Citgo, que pertence ao Estado venezuelano, em solo americano, onde tem operações de porte relevante.

Isso criou dificuldades logísticas importantes para a Venezuela, que, em um primeiro momento passou a exigir pagamento à vista de suas vendas. O governo Trump acredita que poderá interromper o fluxo de US$ 11 bilhões para os cofres de Maduro. Analistas privados estimam que possa haver a interrupção provisória da venda de 200 a 300 mil barris diários, até que parte deles chegue ao mercado americano via intermediários ou sejam vendidos a outros consumidores, como a Índia.

Para derrubar a produção, além disso, os EUA proibiram a venda de insumos que são necessários para o processamento do óleo pesado venezuelano. Ou seja, os EUA estão afugentando os compradores do óleo do país e dificultando também sua oferta, tumultuando o refino. Já privado de reservas (estimativa de US$ 8,4 bilhões), Maduro terá de enfrentar o racionamento de sua única receita.

Ao aperto do cerco às finanças se acrescentará a ajuda humanitária, que governos europeus e EUA concederão e que terão de ser dirigidos à oposição, por meio de pontos de acesso na Colômbia e Brasil. Não há como essa ajuda chegar sem que as Forças Armadas e o governo permitam. A ideia é, além do socorro urgente que, diante da situação de extrema escassez, os militares divirjam do governo e permitam a entrada de remédios e alimentos. Sem isso, há riscos de incidentes armados nas fronteiras com os vizinhos, de consequências imprevisíveis.

Maduro, com apoio da Rússia, segue em modo de negação da realidade. Criticou os países envolvidos na operação e disse que só aceitará a ajuda se as sanções americanas forem retiradas. "Não somos mendigos", afirmou. A crise venezuelana se aproxima de um desfecho, que pode ser trágico.

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