Após deputados ajudarem a reeleger Maia e governador apoiar pacote anticrime de Moro, partido se reúne para afinar discurso
Sérgio Roxo | O Globo
BRASÍLIA - Sob impacto de mais uma condenação judicial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e em meio a um clima de caça às bruxas em razão da divisão do partido na eleição para a Presidência da Câmara, o PT celebrou ontem os seus 39 anos em busca de um rumo para a sua atuação na oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL).
Na semana passada, o lançamento do projeto anticrime do ministro da Justiça, Sergio Moro, expôs as dificuldades do partido em encontrar unidade no discurso. Presente ao encontro em que o ex-juiz da Lava-Jato tornou o texto público, o governador petista da Bahia, Rui Costa, disse que dava o seu “apoio conceitual" à proposta. No mesmo dia, dirigentes disparam uma série de críticas às medidas pelas redes sociais.
Na eleição da Câmara, o partido também ficou dividido. Embora a sigla tenha definido apoio a Marcelo Freixo (PSOL-RJ), a contabilidade interna indica que 15 dos 54 deputados petistas não votaram nele. Freixo levou 50 votos.
Lideranças, como o senador Lindbergh Farias e o ex-governador Tarso Genro, criticaram os que não seguiram a orientação partidária e optaram por Rodrigo Maia (DEM-RJ). Alguns parlamentares usaram o Twitter para garantir que votaram no deputado do PSOL.
Para tentar achar uma linha de atuação no novo quadro político do país, o PT deve bater o martelo hoje, último dia da reunião da executiva nacional, em São Paulo, sobre a realização de um congresso interno, no começo do segundo semestre, e definir a data da eleição de uma nova direção.
A atual presidente, a deputada federal Glesi Hoffmann (PR), tem intenção de continuar no posto, mas enfrenta resistências. A sua presença na posse do ditador venezuelano Nicolás Maduro, mês passado, gerou questionamentos. Na campanha presidencial, Fernando Haddad chegou a dizer que não era possível considerar que a Venezuela viva uma democracia.
Há quem defenda que Haddad deveria assumir o comando do partido. Mas o ex-prefeito de São Paulo resiste, com a avaliação de que, longe dos postos burocráticos, consegue preservar sua imagem num momento em que a política tradicional é questionada.
De qualquer forma, lideranças entendem que Haddad deve exercer uma atuação política mais ativa, com viagens pelo país. Desde a eleição, ele apenas intensificou suas postagens nas redes sociais e fez viagens internacionais.
O PT também chega aos 39 anos vivendo o momento mais tenso na relação com seu principal aliado histórico, o PCdoB. Depois da divisão dos partidos na eleição da Câmara, Manuela d'Ávila expôs publicamente seu incomodo por ter sido “escondida” na campanha, quando foi vice de Haddad. Na reunião da executiva, devem ser definidas, ainda, ações mais urgentes.
— Temos que acertar a relação com a parcela dos 45% dos eleitores que votaram na gente no segundo turno e não são do PT — disse o secretário de comunicação do PT, Carlos Árabe, que reconhece as dificuldades do partido neste começo de governo Bolsonaro:
— Nosso balanço no ano passado não apontou um rumo. O entendimento era que havia uma onda fascista que iria nos soterrar. Isso não aconteceu.
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