- O Estado de S.Paulo
As sucessivas e acachapantes derrotas do governo ontem foram um recado claro: Jair Bolsonaro não sabe o que o espera se insistir em lidar com o Congresso de forma desorganizada ou, pior, impositiva. Na mesma tacada, ficou claro que 1) deputados e senadores não vão deixar virar moda a história de se governar por decretos, 2) ainda não existe articulação política que se possa chamar desse nome e 3) as brigas na base isolam o PSL, que não tem coesão interna nem influência sobre os demais partidos.
A data para que a derrota fosse carimbada na testa do governo não poderia ser mais eloquente. No mesmo dia, Sérgio Moro e Paulo Guedes, as duas principais estrelas do governo, acompanhados de outros ministros, fizeram questão de levar em mãos o pacote anticrime do titular da Justiça. A ideia era, como sempre, baseada na imagem: mostrar coesão de um governo que, na verdade, hoje é um queijo suíço.
E hoje, dia seguinte da comprovação de que a Câmara é atualmente um campo minado para o governo, será a vez de Bolsonaro enviar (levar pessoalmente, dizem alguns) a reforma da Previdência, pedra de toque de seu governo, à mesma Casa.
A crise da demissão de Gustavo Bebianno e as derrotas impingidas ao governo mostram que, ao contrário do senso comum do otimismo inicial, a reforma da Previdência não é um dado da realidade. Precisará ser construída com política, o artigo em falta na gestão Bolsonaro. Não basta ao presidente colocar o projeto debaixo do braço e posar para fotos. Terá de arregaçar as mangas e negociar a aprovação da medida.
PACOTE ANTICRIME
Caixa 2 vira bode na sala de projeto de Sérgio Moro
O desmembramento da criminalização do caixa 2 do restante das medidas do pacote anticrime de Sérgio Moro mostra que a proposta, antes menina dos olhos do ministro da Justiça e Segurança Pública e tema constante de entrevistas e palestras dele quando era juiz federal, virou um bode na sala do projeto: pode ser sacrificado em prol da aprovação do restante. Deputados e integrantes do governo admitem que a aprovação é quase impossível, mas que o importante era “salvar” as outras medidas.
HOMEM-BOMBA
Bebianno fica no presente e poupa, por ora, passado
Gustavo Bebianno é, por ora, um homem-bomba de explosão controlada. Na entrevista que deu à Jovem Pan, fez elogios a Bolsonaro, a quem chamou o tempo todo de “meu presidente” e “capitão”, concentrou a borduna em Carlos Bolsonaro e se ateve a fatos ligados à sua exoneração. Nada falou sobre o período de 2 anos em que foi próximo ao clã e cuidou de assuntos como advogado, coordenador de campanha e presidente do PSL.
CONTENÇÃO
Generais blindam Planalto contra a volta de Carlos
Diante de uma crise que completa uma semana hoje, os generais estão concentrados em assegurar que o afastamento do filho mais explosivo de Bolsonaro das questões de governo não seja apenas momentâneo, até a poeira assentar. A escolha do general Floriano Peixoto para a Secretaria-Geral foi condição deles para que o vereador não aproveitasse a derrubada de Bebianno para colocar alguém sob sua influência no cargo.
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