quarta-feira, 13 de março de 2019

Prisões são passo importante para elucidar caso Marielle: Editorial / O Globo

Agora, polícia precisa avançar para identificar os mandantes e a motivação do assassinato

As prisões do policial militar reformado Ronnie Lessa e do ex-PM Elcio de Queiroz, durante a Operação Lume, da Polícia Civil, ontem de manhã, são um passo importante para esclarecer o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, crime que completa um ano amanhã.

Segundo investigadores, Lessa foi quem disparou os tiros contra Marielle e Anderson. E Queiroz dirigia o Cobalt que seguiu o carro da vereadora na noite de 14 de março de 2018, da Lapa ao Estácio. Além das prisões, policiais estão cumprindo mandados de busca e apreensão para ampliar as apurações.

Para chegar aos suspeitos, a polícia ouviu 230 testemunhas e analisou dados cadastrais de 33 mil linhas telefônicas, das quais 318 foram interceptadas.

O delegado Giniton Lages argumentou que o fato de os acusados terem permanecido o tempo todo dentro do carro dificultou as investigações, já que eles não puderam ser identificados por câmeras ou testemunhas. A participação de um agente público e de um ex-agente teria sido outro complicador.

Aliás, as investigações mostram que essas quadrilhas de milicianos merecem mesmo estar incluídas no plano do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, contra o crime organizado. Elas têm de ser enfrentadas. Só na casa de um amigo do PM Ronnie Lessa, a polícia encontrou 117 fuzis.

De qualquer forma, as prisões feitas ontem renovam as esperanças de que o crime seja finalmente esclarecido. É o que as famílias e a sociedade pedem desde o primeiro momento.

Apesar das três investigações em curso — da Polícia Civil, do MP e da Polícia Federal —, até ontem havia mais dúvidas do que certezas. De início, com base no depoimento de uma testemunha, a Polícia Civil acusou o miliciano Orlando de Curicica e o vereador Marcello Siciliano de envolvimento no crime. Eles negaram. Curicica, que está preso, rebateu dizendo que a polícia tentava proteger os verdadeiros assassinos, e trouxe à tona a existência do nefasto “escritório do crime”, um consórcio de matadores de aluguel formado por PMs e ex-PMs.

Diante dessas contradições, a Polícia Federal entrou no caso para “investigar a investigação” da Polícia Civil. No mês passado, a PF deflagrou uma operação para cumprir mandados de busca e apreensão relacionados ao assassinato. O objetivo era apurar se havia uma tentativa de obstruir as investigações.

É evidente que, quanto mais se esmiuçar o caso, checando todas as versões possíveis, melhor. Mas todos esperam respostas concretas.

Agora, com as prisões dos dois suspeitos, é preciso avançar, para se chegar aos mandantes e à motivação. Não se pode perder de vista que o crime que vitimou Marielle — vereadora em pleno exercício do mandato, outorgado por 46 mil eleitores — é um atentado contra o estado democrático de direito, uma afronta à sociedade. Independentemente do tempo que se leve, é preciso identificar todos os envolvidos e puni-los na forma da lei. Para que se dê uma satisfação à população e se preserve a autoridade do Estado.

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