PM e ex-policial são acusados de executar vereadora e motorista; para MP, crime teve motivação política
Roberta Jansen Fabio Grellet / O Estado de S. Paulo
O PM reformado Ronnie Lessa e o exPM Élcio Vieira Queiroz foram presos ontem no Rio, acusados de assassinar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes. A dois dias de o crime completar um ano, a polícia ainda busca o mandante e a motivação para o ataque. “Isso será respondido em uma segunda fase”, disse o delegado Giniton Lages, responsável pela investigação..
Para o Ministério Público, Marielle foi assassinada por motivação política. Presos durante a madrugada, Lessa e Queiroz foram denunciados por homicídio qualificado e tentativa de homicídio de Fernanda Chaves, assessora de Marielle que sobreviveu ao atentado. O governador Wilson Witzel levantou a possibilidade de os acusados fazerem delação premiada. Jair Bolsonaro disse ser “possível” haver mandantes. A polícia também cumpriu 34 mandados de busca e apreensão. Em um deles, na casa de um amigo de Lessa, foram apreendidos 117 fuzis, maior volume da história do Rio.
Dois dias antes de a execução da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes completar um ano, a Polícia Civil prendeu ontem dois acusados de participação direta no crime: o PM reformado Ronnie Lessa, de 48 anos, e o ex-PM Élcio Vieira Queiroz, de 46. Lessa teria sido o autor dos disparos. Queiroz teria dirigido o carro que levava o assassino. Ainda não se definiram possíveis mandantes e a motivação.
“Essas questões serão respondidas na segunda fase (da investigação)”, afirmou o delegado Giniton Lages, responsável na Delegacia de Homicídios pelo caso. Ele limitou-se a dizer que “foi um crime de ódio, com motivação torpe”. Para o Ministério Público do Rio, Marielle foi morta por sua atuação política. Lessa e Queiroz foram denunciados pelo homicídio qualificado de Marielle e Anderson e pela tentativa de homicídio de Fernanda Chaves, assessora da vereadora que também estava no carro e escapou viva do ataque.
Os dois foram detidos de madrugada. Lessa estava em casa, no mesmo condomínio onde o presidente Jair Bolsonaro tem residência, na Barra da Tijuca, zona oeste carioca. Queiroz também estava em casa, no Engenho de Dentro, zona norte. Há suspeita de que tenham sido informados e tentado fugir. Mas estavam sob monitoramento da polícia. A busca e apreensão na casa de um amigo de Lessa ainda levou à maior apreensão de fuzis da história do Rio.
Depoimentos dos dois acusados na Delegacia de Homicídios podem esclarecer a motivação dos crimes e os mandantes. Além disso, o governador Wilson Witzel (PSC) levantou a possibilidade de os dois fazerem delação premiada. Assim, indicariam possíveis mandantes do crime. As prisões foram resultado de uma operação conjunta com o Ministério Público. As defesas de Lessa e Queiroz negam relação com o crime.
Planejamento. Segundo o MP, o crime foi planejado de forma meticulosa por três meses. Lages informou que nesse período Lessa teria feito pesquisas online não apenas sobre a rotina da vereadora, mas também sobre a de outros políticos da esquerda, como o atual deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e sua família, além de autoridades da área de segurança. “Ronnie tinha um perfil de ódio a políticos de esquerda.”
Conforme o delegado, Lessa fez pesquisas na internet “sobre Marcelo Freixo, sobre a mulher do Freixo, sobre diversas autoridades públicas, o (general) Richard Nunes (então secretário de Segurança)”. Lages não deixou claro, no entanto, se o objetivo de tais pesquisas seria buscar outros alvos ou reunir informações para o crime.
Segundo o MP, o nome de Lessa surgiu pela primeira vez em outubro. “Uma informação obtida pelo serviço de inteligência dava conta de ter havido um encontro no Quebra-Mar, no pré-crime”, disse a promotora Simone Sibílio. Para o Ministério Público, Lessa agiu motivado por repulsa à atividade parlamentar de Marielle, mas isso não impede que haja um mandante.
Foram ouvidas 230 testemunhas e interceptadas 318 linhas telefônicas. Chegou-se a um intricado rastro de vestígios deixados pelos suspeitos, acompanhando milhares de horas de imagens de câmeras nas ruas. “Foi uma execução sofisticada e que não teve erro por parte dos criminosos”, disse Lages.
Segundo ele, só houve um momento que, por pouco, não mudou o rumo do crime. Marielle deixou o local onde participava de evento naquela noite, ao lado da assessora Fernanda Chaves e do motorista. Os três se encaminham para o automóvel usado pela vereadora, e a outra funcionária vai na direção do veículo dos assassinos – pensou ser um carro por aplicativo que havia pedido. “Ela chega a tocar na maçaneta da porta. Mas rapidamente vê o outro carro.”
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