- Folha de S. Paulo
Dilma e Lula cometeram barbaridades no auge da aprovação; moderação favorece eficácia na política
Os resultados do Datafolha completam um ciclo de notícias confortadoras em torno do presidente da República. Jair Bolsonaro tornou-se mais parecido com um governante comum, atravessado por limitações que começa a reconhecer.
Recuou em frentes que produziam atrito gratuito, da embaixada em Jerusalém ao Ministério da Educação. Pôs areia na engrenagem do ministro da Economia ao acenar com a retirada da capitalização na Previdência, ideia fixa de Paulo Guedes.
O presidente também ampliou seu papel na negociação da reforma do sistema de aposentadorias com partidos importantes no Congresso. A manter-se no proscênio, cresce a probabilidade de aprovação tempestiva de um programa satisfatório.
A popularidade mediana favorece o ambiente em que a política representativa pode ser mais eficaz. Retira a coroa e o cetro do presidente sem, no entanto, atirá-lo à lona. Fortalece parlamentares mais no sentido da cooperação que no da retaliação.
Não por coincidência, as maiores barbaridades do segundo governo Lula e do primeiro Dilma coincidiram com aprovações presidenciais estratosféricas. O chefe de governo brasileiro, já constitucionalmente forte, tende ao czarismo nesses momentos.
A entropia, o desgaste natural que envolve tudo o que é sólido no universo, vai ajudar Bolsonaro a enfocar os temas e as ações realmente importantes para o sucesso de sua gestão. Na economia, a agenda das reformas. Na política...
Bem, na política está o seu calcanhar de aquiles. E não se trata de realizar ajustes na condução do governo para atingir objetivos de curto prazo na Previdência, o que parece factível neste contexto de tesouros públicos quebrados Brasil afora.
A doença crônica do bolsonarismo é a carência de bolsonarismo organizado. Não há partido ou movimento coerentes a sustentá-lo. Nem sequer um broto disso. Sem essa espinha dorsal, nada sobrevive ao tectonismo da política.
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