segunda-feira, 8 de abril de 2019

Ricardo Noblat: Bye, bye, ministro!

- Blog do Noblat / Veja

Mudança na Educação
É com um travo na alma que o presidente Jair Bolsonaro deverá demitir, hoje, o ministro da Educação, Ricardo Veléz Rodrigues. Não porque goste particularmente dele. Gosta de suas ideias. Reprova seu desempenho. O ministério está uma zorra e não pode continuar assim.

O travo tem a ver com a cobrança feita pela mídia para que o ministro seja dispensado. Bolsonaro detesta a mídia. Ou melhor: grande parte dela. E não gostaria de lhe dar esse gostinho. Se ele pudesse – ou se puder – adiaria a demissão outra vez.

Será o segundo ministro a cair em menos de 100 dias de governo – ou de desgoverno, como preferirem. Gustavo Bebiano, da Secretária-geral da Presidência da República, foi demitido primeiro pelo vereador Carlos Bolsonaro, e só depois pelo pai dele.

Veléz Rodrigues foi indicado pelo autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, guru da família Bolsonaro e de milhares de devotos do presidente. Mas desde a semana passada que Olavo largou de mão o ministro. Só não quer que seus discípulos percam os empregos.

Em troca de alguma recompensa, do tipo uma vaga em outro lugar qualquer do governo com um salário bastante razoável, o ministro irá embora sem se queixar. Ele nunca imaginara ser ministro. Foi surpreendido com o convite. Vida que segue.

Por enquanto, a vida do ministro do Turismo, Marcelo Antônio, também irá adiante. Ele está enrolado até o talo no escândalo das candidaturas falsas do PSL de Bolsonaro em Minas Gerais. Dinheiro público foi desviado, e isso é crime. Mas Bolsonaro o protege.

Afinal, o ministro foi escolha dele e de mais ninguém. Estava ao seu lado em Juiz de Fora quando Bolsonaro acabou esfaqueado. Ajudou a transportar seu corpo para o hospital. Dali só saiu quando soube que o então candidato a presidente havia sobrevivido.

Não se abandona um amigo no meio do caminho. Para Bolsonaro, ex-paraquedista, confiança é essencial. Quem está atrás confia em quem está na frente na hora de saltar. E quem está na frente confia em que está mais à frente. O primeiro da fila confia nele mesmo.

Sobre isso Bolsonaro dissertou em Israel para uma atenta e perplexa plateia de empresários, todos interessados em saber o que ele queria dizer com tudo aquilo. Foram embora sem entender direito, mas tudo bem. Culpa da tradutora que tampouco entendeu.

O show de Mourão em Harvard

Aplaudido de pé
Foi o contraponto da visita recente do presidente Jair Bolsonaro aos Estados Unidos. Enquanto Bolsonaro fez questão de se apresentar aos americanos como um líder belicoso e de extrema direita, o vice-presidente Hamilton Mourão fez o inverso.

Talvez tenha sido por isso que acabou sendo aplaudido de pé pela plateia da Brazil Conference, evento organizado pelos estudantes brasileiros das universidades Harvard e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

Quando fala dos problemas da segurança pública, Bolsonaro dá ênfase às medidas duras contra o crime e à necessidade de armar a população para que se defenda. Mourão não foi por aí quando perguntado como encara a questão.

Defendeu que o governo faça um trabalho “persistente” na área social para resolver a criminalidade. “Com as pessoas vivendo amontoadas em favela, sem acesso a água e luz” e a mercê dos traficantes, ele disse, “nós não vamos resolver o problema”.

Fez questão de separar as Forças Armadas do governo. Disse que elas continuarão cumprindo seu papel tal como definido pela Constituição. Alegou que os militares empregados no governo deixaram a farda. E que Bolsonaro é político há mais de 30 anos.

Mas admitiu, sim, que a imagem das Forças Armadas será afetada caso o governo fracasse. “Se o nosso governo errar, errar muito, não entregar o que prometeu, a conta acabará sendo paga pelas Forças Armadas”, afirmou sem tergiversar.

Um professor de Harvard manifestou sua preocupação com a excessiva vinculação dos militares ao governo. E lembrou que o ex-presidente Ernesto Geisel concluíra no final do seu governo que os militares deveriam devolver o poder aos civis.

Resposta de Mourão: “Geisel não foi eleito. Eu fui”. De certa forma, Mourão contrariou a história oficial contada pelas Forças Armadas de que os generais presidentes do ciclo de 64 foram eleitos pelo Congresso, o que garantiria a legitimidade dos seus mandatos.

Mourão reconheceu que não deu certa a ideia inicial de Bolsonaro de desprezar os partidos e negociar o apoio das bancadas temáticas dentro do Congresso. E que ele agora tentará montar “maiorias transitórias” para aprovar cada projeto do governo.

Mas para que a “nova estratégia” possa ser bem sucedida haverá que se ter “muita paciência e diálogo”. Mourão espera que Bolsonaro, hoje, resolva o que fazer com o ministro da Educação. “Não vou negar: estamos com um problema na Educação”, disse.

Só houve um momento durante o debate com professores e estudantes de Harvard em que Mourão pareceu embaraçado. Foi quando lhe perguntaram o que teria feito de diferente nesses primeiros 100 dias de governo se fosse ele o presidente.

– Escolheria, talvez, outras pessoas para governar comigo – respondeu.

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