- O Globo
Para que serve este interminável debate entre o “ideólogo”, os ministros militares e generais de quatro estrelas ligados ao governo Bolsonaro? Para nada. Não muda uma vírgula na vida dos cidadãos. Não aumenta nem abaixa o preço do pé de alface. O bate-boca entre Olavo de Carvalho, o vice Mourão, ministros de farda e outros comandantes militares é estéril. Não semeia, não alimenta, não incomoda e nem interessa a ninguém. O país se lixa para o que pensa Olavo sobre os militares.
A bobajada diária de Olavo de Carvalho serve apenas para incensar os paranoicos que cercam Jair Bolsonaro. O próprio presidente regurgita os “ensinamentos” do mestre. Os seus filhos vibram com as exclamações de baixo nível de Olavo. Diante do líder ideológico, seus olhos brilham, seus corações disparam, suas bocas secam. Ficam hipnotizados por ele, como Riobaldo por Diadorim.
Além desses, do chanceler e do ministro da Educação, só reagem a ele os ofendidos e os jornalistas. Estes veem acertadamente um prato cheio toda vez que o ermitão de Richmond dispara um de seus petardos repletos de xingamentos na direção de um general.
De resto, ninguém dá bola para Olavo. Ele não é um assunto. Com exceção de alguns círculos mais politizados, não há nas ruas do Brasil pessoas procurando saber o que disse Olavo, qual a última do touro apocalíptico. Imagine uma conversa entre quatro ou cinco pessoas num bar em Montes Claros, no norte de Minas Gerais. Consegue ouvi-los falando de Olavo de Carvalho? E numa roda em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo? Consegue ouvir o nome do guru? Também não consigo.
De qualquer forma, os brasileiros têm lado em todas as questões. Seja em futebol, seja em política. O que diria o Brasil se fosse feita uma pesquisa sobre quem tem razão nessa guerra entre Olavo e os militares? Não é difícil imaginar a resposta. Um amigo meu, o jornalista suíço Jean-Jacques Fontaine, me fez a seguinte pergunta na segunda-feira passada: “É impressão minha ou são os militares que hoje garantem a democracia no Brasil?”
É correta a impressão de Jean-Jacques, que está no Brasil coletando dados para uma grande reportagem ou um livro sobre esses novos tempos que vivemos por aqui. Além da equipe econômica, se há um grupo moderado dentro do governo Bolsonaro, com o qual se consegue dialogar, concordar ou divergir, ele é formado pelo vice-presidente e pelos ministros militares. Os mesmos que causaram arrepios quando foram sendo nomeados. O país prendeu o fôlego com a sucessão de generais aparecendo na lista de ministeriáveis pouco antes da posse.
Mas, hoje, pode-se dizer que os militares formam a tropa mais democrática e tolerante do governo. O que é incrível, no bom sentido. Se estes são democráticos, e até onde se viu, confiáveis, por que perder tempo com o estulto histriônico? Porque ele é grosseiro, arrogante e perigoso. Perigoso por ser um desestabilizador com força para mexer no Ministério. Nomeou os ministros da Educação e das Relações Exteriores. Depois, insatisfeito na Educação, pressionou tanto que conseguiu trocar o nada pelo coisa nenhuma. E o preço que se paga por isso é do tamanho do corte bilionário que se fará nos orçamentos das universidades federais.
Jair Bolsonaro parece não ser o único dono do seu governo. Olavo com seus meninos manda em parte da administração. Das pautas que contam e que o país esperava do presidente que elegeu, apenas a reforma da Previdência está caminhando, até porque é o Congresso que a toca. Nem mesmo o pacote de segurança do seu ministro mais cintilante, Sergio Moro, da Justiça, anda direito. Na questão do decreto do porte de armas, o presidente atendeu à indústria de armamento, não ao cidadão. E atropelou o Congresso, mais uma vez.
Assim, já quase chegando à metade de seu primeiro ano de mandato, o governo Bolsonaro ainda engatinha. Se você fizer um balanço sério, vai ver que, mesmo com muita boa vontade, pouco se aproveita da nova gestão. Além disso, tem-se que ouvir dia sim e outro também a mesma retórica desagradável inspirada num guia tão distante quanto mal-educado.
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