Blog do Noblat / Veja (18/6/2019)
Governo de morte
Sem mais essa de que o governo é uma zorra, dividido em grupos que disputam o título de quem manda no presidente Jair Bolsonaro e no final acabará por tutelá-lo.
O título já tem dono: Bolsonaro. A zorra parece próxima do fim. Mas como ninguém governa sozinho, ele decidiu compartilhar o poder com um grupo restrito de pessoas de sua inteira confiança.
A saber: seus filhos, o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho e, vá lá, talvez por enquanto o ministro Paulo Guedes, da Economia, a quem no passado Bolsonaro chamava de “Posto Ipiranga”.
Ainda chama por força do hábito. E porque falta aprovar a reforma da Previdência. Mas com uma reforma desidratada e um chefe voluntarioso, Guedes corre o perigo de se tornar descartável.
Bolsonaro voltou a vestir a faixa presidencial quando demitiu o general Santos Cruz da Secretaria de Governo. Era o único ministro com autoridade para barrar as ideias esdrúxulas do presidente.
Guedes já teve mais autoridade. Aos poucos começou a perdê-la dada as sucessivas invasões de sua área por Bolsonaro. A mais recente, a demissão de Joaquim Levy da presidência do BNDES.
O substituto de Levy, para além de suas credenciais como economista teve o aval dos garotos. E está disposto a abrir a caixa preta do banco, se é que tal coisa existe por lá.
A demissão de Santos Cruz foi o sinal mais convincente de que a chamada ala militar do governo está sendo enquadrada, se já não foi. O general Augusto Heleno poderá ser a próxima peça a ser trocada.
Se escapar de uma eventual bala de prata extraída de suas conversas à época em que comandava a Lava Jato, Sérgio Moro continuará no governo. Mas ele já foi ministro. Agora, está ministro.
O dono da voz aparentemente rendeu-se de vez à teoria do “caos criativo” defendida por Olavo e seus semelhantes. É preciso destruir tudo que impeça o surgimento do “novo”. Quanto ao “novo”…
Bem, ficará para mais adiante elaborar melhor o que possa ser. Sem pressa. O primeiro mandato é para destruir. O segundo para construir. Este será um governo de morte. Como se pretende.
À caça do tesouro do BNDES
Levy abortou um crime
Entre as mais caras recordações dos poucos meses que serviu ao governo Bolsonaro como presidente do BNDES, o economista Joaquim Levy guarda uma que só compartilhou com poucos amigos.
Há pouco tempo, o ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, reuniu-se com técnicos do banco no Rio interessado em informações sobre o Fundo da Amazônia.
O Fundo capta doações para investimentos não-reembolsáveis em ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento na Amazônia. Os maiores doadores são os governos da Alemanha e Noruega.
Os técnicos mostraram documentos sigilosos sobre o Fundo. E, de repente, Salles sacou do celular e começou a fotografá-los. Levy foi chamado às pressas e disse a Salles que aquilo seria um crime.
O ministro foi embora aborrecido.
Tire a música. Veja o que sobra
Sobre as conversas gravadas de Moro
Nos anos 60 do século passado, para comemorar as chuvas intensas que caíam sobre o Nordeste, o coronel Francisco Heráclio, dono de terras e dos votos de Limoeiro no agreste de Pernambuco, resolveu oferecer uma festa em sua casa com direito a forró. Compareceu muita gente – quem ousaria faltar?
Lá para as tantas, o coronel ficou sabendo que duas belas jovens recusavam todos os convites para dançar. “Meu pai não deixa”, confidenciou uma delas. O coronel então convocou o pai para uma conversa – ele, sentado em uma cadeira de balanço no alpendre da casa, o pai de pé com o chapéu de palha na mão em sinal de respeito.
– Compadre, é verdade que vosmecê proibiu suas filhas de dançar? – perguntou o coronel.
– É verdade, sim, meu coronel – respondeu o pai.
– Mas proibiu por quê? Na minha casa ninguém falta com a decência. Dançar não tem nada demais. E você está me fazendo uma desfeita.
– Não se avexe, meu coronel. Mas faça uma experiência: tire a música. Deixe só a dança. O que sobra? O que sobra? Só safadeza.
Um deputado do Nordeste, líder de um dos partidos na Câmara, contou essa história, ontem, numa roda de amigos a propósito do conteúdo das conversas gravadas do ex-juiz Sérgio Moro com procuradores da Lava Jato. E em seguida sugeriu:
– Tire os procuradores das conversas. No lugar deles, ponha advogados de Lula. Só vai sobrar safadeza.
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