A economia começou devagar o segundo trimestre, reforçando as expectativas pessimistas para o ano. A sinalização foi dada pelo IBC-Br, indicador elaborado pelo Banco Central (BC) que antecipa o Produto Interno Bruto (PIB) e teve queda de 0,47% em abril em relação a março, superando em quase cinco vezes a mediana das projeções dos economistas consultados pelo Valor. Os analistas haviam se entusiasmado com os dados da produção industrial, das vendas do varejo ampliado e dos serviços, que apresentaram números positivos em abril. Quando examinados em detalhes, porém, mostram ainda uma grande fragilidade na economia.
Logo no início do mês, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que a produção industrial cresceu 0,3% em abril sobre março, menos da metade do previsto por analistas, principalmente em consequência do comprometimento da extração mineral, segmento ainda afetado pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, Minas Gerais, no fim de janeiro. Mas preocupa igualmente o recuo da produção de bens de capital e de bens duráveis, que haviam estimulado a recuperação em 2018. Em relação a abril de 2018, a queda foi de 3,9%; e o acumulado nos quatro primeiros meses do ano está no negativo.
Dados já disponíveis de maio, como o fluxo de veículos pesados nas estradas, expedição de papel ondulado e produção de veículos indicam que a produção pode ter voltado a cair. Há fortes motivos para se prever que o ano vai fechar no vermelho, como aconteceu de 2014 a 2017, quando foram perdidos 1,33 milhão e empregos e 17 mil empresas fecharam (Valor, 7/6).
Mais recentemente vieram os dados do comportamento do varejo em abril, com resultados contrastantes, conforme o segmento. O varejo restrito teve queda acima do esperado, de 0,6%, afetado pelo terceiro mês consecutivo de recuo das vendas nos supermercados, em consequência da falta de fôlego da renda da população e do aumento dos preços dos alimentos. Já o varejo ampliado, que inclui materiais de construção e veículos, ficou estável, frustrando as projeções de aumento. No balanço final, o varejo não saiu do lugar e está no mesmo patamar de 2019. O recuo de 1,4% das vendas na semana do Dia das Mães, constatado pelo Indicador Serasa Experian da Atividade do Comércio, não é um bom sinal para maio.
Já o volume de serviços prestados interrompeu uma sequência de três meses de quedas e aumentou 0,3% em abril. Na comparação com abril de 2018, houve queda de 0,7%. Apesar disso, o setor acumula alta no ano e em 12 meses, de 0,6% e 0,4%, respectivamente. Mas a percepção dos analistas é que o setor está perdendo o dinamismo, influenciado pelo ritmo fraco da economia e também pela estagnação da renda das famílias.
Embora possam mostrar esporadicamente algum sinal de melhoria, os indicadores apontam para uma desaceleração neste ano. Como o mercado de trabalho segue ruim, quem está empregado reduz ou posterga as compras e evita assumir dívidas.
Em recente entrevista ao Valor, o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e atual presidente do Insper, Marcos Lisboa, elaborou uma extensa agenda de medidas necessárias para reativar a economia (13/6). Segundo sublinhou, a reforma da Previdência, embora necessária e importante, não é o bastante. É preciso investir em infraestrutura, cujas deficiências elevam os custos e tiram a competitividade das empresas, e resolver o nó tributário, além de corrigir os problemas na frente do comércio exterior, já conturbada pela tensão internacional. Como resumiu, "há um ambiente institucional muito deteriorado no setor produtivo, e isso já vem de anos".
Esse conjunto de amarras reduziu o crescimento potencial do Brasil para perto 1%, conforme avalia, apesar dos juros e da inflação em patamares historicamente baixos. O governo está focado na batalha da aprovação da reforma da Previdência, deixando de lado as outras questões. Isso quando não tropeça nas armadilhas que ele próprio constrói, dando sinais contraditórios, com suas dificuldades de articulação e ruídos de comunicação, aparentemente ainda crente que a tragédia da existência de 13 milhões de desempregados e da economia fraca são consequências apenas dos governos anteriores. Foi no ritmo de apenas 1,1% de expansão que a economia andou em 2017 e 2018, e corre o risco de crescer ainda menos neste ano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário