- Folha de S. Paulo
Escolha não é simples no choque entre iluminismo e pluralismo
Espírito crítico, apartidarismo e pluralismo são a Santíssima Trindade da Folha, reiterados no projeto editorial de 2017. Na era Bolsonaro, cumprir uma parte desse tripé apresenta desafios que nunca imaginaríamos até pouco tempo atrás.
Refiro-me ao pluralismo. Nos últimos meses, tenho me dedicado a ouvir a direita, e uma crítica frequente é que a Folha é esquerdista, comunista até. Por descabida que seja essa percepção, ela reflete a visão de que faltam vozes conservadoras no periódico mais diverso do país.
Não que a Folha ignore o mundo destro. Há reportagens quase diárias contemplando iniciativas como a criação de um grupo de professores universitários de direita, para dar um exemplo recente. Ou colunistas que defendem o Estado mínimo.
Mas a coisa se complica quando o centro do debate se aproxima do que era considerado uma franja. Escola Sem Partido, defesa do armamentismo, encarceramento, liberação de agrotóxicos (ops, defensivos), diluição de garantias ambientais estão na ordem do dia. É raro encontrar um colunista que defenda esses temas, por exemplo.
O desafio não é só da Folha, mas é mais pronunciado num jornal que fez de sua condição de praça pública uma marca.
Olhando em retrospecto, era relativamente fácil ser plural (embora não soubéssemos disso) quando as opções estavam entre PT e PSDB, forças iluministas, por assim dizer. Mais complicado é contemplar gente que faz discurso impregnado de anti-intelectualismo.
Mas são essas as pessoas que estão, em muitas situações, no comando do debate público. No choque entre iluminismo e pluralismo, a escolha não é fácil.
Nesse debate, meu coração pende para a multiplicidade. Torço para que o jornal, que criou uma editoria da diversidade, inclua cada vez mais vozes conservadoras no seu rol de preocupações.
Menos os terraplanistas. Vocês não, amigos.
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