Declaração é dada em resposta a pergunta sobre desigualdade e combate à pobreza; presidente recua depois e admite problema
Mariana Haubert / Matheus Lara / O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que é uma “grande mentira” que há pessoas passando fome no Brasil, contradizendo dados da ONU e números do Datasus, do Ministério da Saúde (mais informações nesta página), em café da manhã com jornalistas estrangeiros no Planalto – a conversa foi transmitida nas redes sociais.
“Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira. Passa-se mal, não come bem. Aí eu concordo. Agora, passar fome, não”, disse Bolsonaro, que, mais tarde, recuou e afirmou que “alguns passam fome”.
A declaração dada aos jornalistas estrangeiros, e que precisou ser corrigida, foi uma resposta de Bolsonaro a uma pergunta sobre desigualdade e combate à pobreza no País. “Você não vê gente, mesmo pobre, pelas ruas com físico esquelético como a gente vê em alguns outros países pelo mundo.”
O presidente também criticou políticas de cunho social de governos anteriores. “Adotou-se do governo FHC (Fernando Henrique Cardoso) pra cá, PSDB e depois o PT, (a ideia de) que distribuição de riqueza é criar bolsa”, disse Bolsonaro. “É o país das bolsas. O que faz tirar o homem da miséria, ou a mulher, é o conhecimento.”
Dados divulgados em setembro do ano passado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e um grupo de agências da ONU mostram que o combate à fome no Brasil se estagnou, apesar de o País ter saído do chamado mapa da fome em 2014.
A entidade apontou que, em 2017, havia “menos de 5,2 milhões” de brasileiros passando fome, uma mudança marginal em comparação aos números que vinham sendo apresentados nos últimos anos. Em 2014, essa taxa era de 5,1 milhões. Dois anos antes, o volume era de 5 milhões. O ponto mais baixo foi atingido em 2010, quando cerca de 4,9 milhões de brasileiros eram considerados famintos, de acordo com entidade.
Após ter dito que não há fome no Brasil, Bolsonaro afirmou não saber por que uma “pequena parte” da população passa fome. “Olha, o brasileiro come mal. Alguns passam fome. Agora, é inaceitável (em) um país tão rico como o nosso, com terras agricultáveis, água em abundância, até o semiárido nordestino tem uma precipitação pluviométrica maior do que Israel. E falei também na questão das Pequenas Centrais Hidrelétricas. Você leva dez anos para conseguir uma licença. E qualquer hectare de água produz de 10 a 15 toneladas de tilápia por ano.
‘Nenhum magro’. Questionado sobre se estava voltando atrás da declaração inicial, o presidente ficou irritado. “Ah, pelo amor de Deus, se for pra entrar em detalhe, em filigrana, eu vou embora. Eu não tô vendo nenhum magro aqui, tá certo? Temos problema alimentar no Brasil? Temos, não é culpa minha, vem de trás, estamos tentando resolver”, afirmou.
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