- Folha de S. Paulo
Lado pró-boicote tem um objetivo preciso e realizável
Como você, leitor, pessoa racional, que acredita em fatos, razoavelmente empática e preocupada com o planeta que deixaremos para nossos filhos e netos, deve se posicionar em relação à campanha internacional de boicote a produtos brasileiros para salvar a Amazônia? A questão é complexa.
Se a iniciativa tomar corpo, nossa economia sofrerá. O agronegócio, alvo mais óbvio da campanha, responde por quase 25% do PIB brasileiro. E incentivadores do movimento não querem apenas boicotar a carne e a soja. Há quem fale até em deixar de assistir a vídeos de jogadores brasileiros. No momento delicado por que passa a economia, uma redução forçada das exportações pode ser muito ruim para o país. Ainda que em graus variados, a campanha afetaria negativamente todos os brasileiros.
No plano ético, não vejo motivos fortes para criticar o movimento. Embora a quantidade de erros documentais, factuais e conceituais reproduzidos pelas pessoas que protestaram contra as queimadas impressione —só rivaliza com as bobagens ditas pelo próprio Bolsonaro—, a ideia básica de que é importante para o planeta que a Amazônia seja preservada está correta. O valor de fazê-lo não é apenas instrumental mas também moral. Devemos isso a nossos descendentes.
O que me faz pender para o lado pró-boicote é que ele teria um objetivo preciso e realizável, que é fazer com que o governo volte a manter o ritmo do desmatamento sob controle —algo em que tínhamos sucesso até um par de anos atrás. Apesar de a campanha produzir vítimas inocentes, ela afetaria mais quem tem mais responsabilidade sobre o desflorestamento, leia-se, os posicionamentos mais inconsequentes do presidente Bolsonaro e os setores mais atrasados do agronegócio. Confesso que experimento uma certa "Schadenfreude" ao ver gente como Kátia Abreu e Blairo Maggi defendendo bandeiras ambientais. Se não é por convicção, que seja pelo bolso.
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