Recuperação se firma e ritmo lento deve prevalecer: Editorial | Valor Econômico
Temores de uma reversão de expectativas já rebaixadas sobre o comportamento da economia ficam para trás com o avanço de 0,4% do Produto Interno Bruto no segundo trimestre. O recuo do primeiro trimestre foi revisto de -0,2% para -0,1% e tanto a comparação deste trimestre com o mesmo em 2018 e a taxa acumulada em 4 trimestres apontam expansão de 1% - a melhor expectativa até agora entre os analistas para o PIB este ano. O resultado não muda muito a perspectiva de que a recuperação atual continuará sendo a mais lenta em relação a todas as anteriores, mas sugere pelo menos que a perspectiva mais provável é a de mais, e não menos, crescimento.
Há nuvens escuras, especialmente no horizonte externo - o agravamento da crise argentina, a guerra comercial e a desaceleração da economia global - que podem mudar o ímpeto da expansão já no curto prazo.
A novidade, que deu grande empurrão às atividades no segundo trimestre foi o desempenho da construção civil (peso de 4,5% no PIB), com avanço de 1,9% sobre o trimestre anterior - o primeiro número positivo após 20 trimestres de queda. Com forte peso também na formação bruta de capital fixo, a demanda da construção ajudou a puxar para cima esse indicador, que cresceu 3,2% no período. As atividades imobiliárias (peso de 9,9% no PIB), também tiveram um arranque, de 0,7% sobre o trimestre anterior e de 2,8% no semestre ante o mesmo período de 2018.
A indústria de transformação teve peso determinante para um PIB maior e, na ponta, está avançando a ritmo superior ao esperado, de 2%, em contraste com a indústria extrativa, que voltou a encolher, desta vez -3,8%, ainda sob efeito do rompimento da barragem de Brumadinho e paralisação de outras barragens pelo país. No semestre no entanto, o crescimento da indústria de transformação é de 0% em relação ao mesmo período de 2018.
Refrearam a performance da economia a agropecuária, com -0,4%, puxada para baixo pela queda decisiva de 4% na colheita de soja, de 13,1% na de café, entre outros. No terceiro trimestre aparecerão números melhores para o café e para o milho, sugerindo que o campo contribuirá positivamente para o PIB.
Já não se deve esperar o mesmo da influência do comércio exterior. As exportações caíram o dobro do que previam os analistas (-1,6% ante -0,8%) e as importações avançaram 1%, bem acima dos 0,3% projetados. Dessa forma, o setor externo retirou 0,4 pontos percentuais do crescimento, nos cálculos do Goldman Sachs, isto é, o PIB cresceria o dobro se houvesse equilíbrio. No curto prazo essa equação não deve melhorar. As vendas para a Argentina, que já caíram muito, não devem se recuperar. A China, que enfrenta a ira tarifária dos EUA, pode perder algum fôlego de crescimento, pressionando para baixo o preço de commodities não agrícolas. A desaceleração do comércio global será outro forte obstáculo.
Pelo lado da despesa, o resultado positivo foi garantido pelo aumento de 3,2% da FBCF, na ponta, e pela manutenção do consumo das famílias (0,3%). O consumo do governo caiu 1% e não deve dar impulso importante às atividades no curto e médio prazos. Esse é um dos fatores explicativos da lentidão da retomada atual em relação às do passado. Em 2019, os investimentos do governo devem ser os menores desde pelo menos 2007. Para 2020, a julgar pelas discussões do orçamento em curso, deverão ser ainda menores.
A comparação do primeiro semestre deste ano com o de 2018 revela fragilidades que tolhem uma aceleração maior da economia. O consumo das famílias ainda está contido e sua evolução depende do aumento da massa salarial real, do aumento do poder de compra dos salários, que melhorou com a queda da inflação, da oferta de crédito, que aumenta a dois dígitos e tende a crescer em condições um pouco mais favoráveis com a redução da taxa Selic, que deve prosseguir até o fim do ano.
Os investimentos, pela taxa acumulada de quatro trimestres, oscila ao redor de 4% há um ano, enquanto que o ritmo da economia está estacionado em 1%. O consumo das famílias ainda tem curva declinante. Deve-se esperar aumento marginal dos investimentos, devido às incertezas econômicas e à elevada ociosidade, combinados com a demora das concessões em infraestrutura. O consumo das famílias tende a avançar lentamente: o aumento do emprego é gradual e ocorre com mais força no setor informal.
Ainda que um trimestre seja insuficiente para firmar a tendência, a chance de que a economia evoluirá para um ritmo comedidamente superior de expansão aumentou.
Menos ruim: Editorial | Folha de S. Paulo
Temores de recessão se afastam, mas governo precisa acelerar agenda econômica
O risco de o país estar a caminho de uma recaída recessiva parece por ora afastado, segundo indicam os números mais amplos do desempenho da economia divulgados nesta quinta-feira (29) pelo IBGE.
Medida da renda nacional, o Produto Interno Bruto cresceu 0,4% no segundo trimestre, ante o primeiro. Um pouco melhor que o esperado, pois chegou-se a temer algum recuo como o do primeiro trimestre —mas ainda insuficiente para indicar recuperação mais vigorosa.
Em 12 meses, o avanço, que mal merece tal denominação, foi de 1%. Esta deve ser a taxa ao final deste 2019, de acordo com as projeções mais otimistas de hoje.
Completam-se, assim, três anos seguidos de crescimento em torno desse patamar pífio, que mal compensa a expansão populacional. A renda média por habitante ainda está 8% abaixo do nível de 2013.
A melhor notícia, desta vez, veio dos investimentos, que mostraram alta de 3,2% no período abril-junho. Boa parte da melhora se deveu à construção civil, o setor mais devastado pela crise, que registrou a primeira variação positiva (de 1,9%) desde o final de 2014.
Ainda assim, os investimentos privados e públicos —vale dizer, recursos para obras, máquinas e outros ativos destinados a ampliar a capacidade produtiva— equivalem a vexatórios 15,9% do PIB. Já se calculou que a cifra deveria chegar a 25% para sustentar um desenvolvimento mais duradouro.
As perspectivas para 2020, até aqui, tampouco se mostram animadoras. As estimativas para o crescimento do PIB, atualmente em torno de 2,1%, estão ameaçadas pela piora do cenário internacional —de conflitos entre EUA e China e derrocada da Argentina.
Não é um desempenho com o qual pode conformar-se um país que empobreceu nesta década e tem tantas carências a superar. A persistência da letargia, em cenário de desemprego elevado, contribui inclusive para a incerteza política.
O governo Jair Bolsonaro (PSL) adotou diretrizes econômicas corretas, mas tem sido lento na implementação de seu programa. Entre as opções à mão, é preciso sobretudo destravar as concessões de serviços à iniciativa privada no setor de infraestrutura, fundamentais para a retomada de investimentos.
Deve prosseguir também o corte de juros do Banco Central, que tende a dar algum alento ao crédito para pessoas físicas e jurídicas.
Da parte do presidente, que comemorou os parcos números desta terça, a melhor contribuição seria pôr fim a confrontos que tensionam o ambiente nacional e dificultam a recuperação da confiança de consumidores e empresários.
A Previdência avança: Editorial | O Estado de S. Paulo
A reforma da Previdência segue seu curso. Respeitando o cronograma acordado com lideranças do Congresso Nacional, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) apresentou seu relatório sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 6/2019 à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. O texto, que deverá ser votado pela CCJ no próximo dia 4, suprime dois pontos aprovados pela Câmara dos Deputados: o critério de renda para a concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC) – concedido a idosos e pessoas com deficiência com renda familiar per capita de até ¼ do salário mínimo (hoje R$ 249,50) – e a elevação da idade e do tempo de contribuição para trabalhadores que lidam com atividades prejudiciais à saúde.
As duas alterações implicam a redução de R$ 31 bilhões no montante a ser economizado com a aprovação da reforma tal como passou pela Câmara (R$ 933,5 bilhões em dez anos). O total da “desidratação” poderá chegar a R$ 98 bilhões caso os senadores aprovem outras modificações que estão em discussão na Casa a fim de flexibilizar pontos já aprovados pelos deputados, como as regras para a concessão de pensão por morte.
No entanto, o senador Tasso Jereissati prevê uma compensação em seu relatório pelo incremento de R$ 155 bilhões na economia proporcionada pela reforma com o fim de isenções previdenciárias para uma parte das entidades filantrópicas e sobre as exportações do agronegócio. “Estamos fazendo isso (propondo o fim das isenções previdenciárias) porque não achamos justo nem correto que entidades filantrópicas ricas, riquíssimas, que cobram alto de seus usuários, não contribuam do lado patronal para a Previdência Social”, justificou o senador. A ideia é que o fim das isenções previdenciárias se dê ao longo de cinco anos, o que também mostra um cuidado do relator para não comprometer da noite para o dia o orçamento das entidades filantrópicas.
Desse modo, o relatório do senador Tasso Jereissati aprimora o texto aprovado pelos deputados no início do mês sem comprometer o ganho final esperado com a aprovação da reforma da Previdência. Ora, para a sociedade, para o processo democrático e para a higidez das finanças públicas, esse é um cenário muito bom.
O montante final a ser economizado poderá chegar a R$ 1,35 trilhão caso também seja aprovada a chamada “PEC paralela”, que prevê a extensão das novas regras previdenciárias para os Estados e municípios, entes excluídos do texto aprovado na Câmara.
O senador Tasso Jereissati teve a perspicácia de suprimir trechos inteiros da reforma em seu relatório e de recorrer à “PEC paralela” para que o texto já aprovado pela Câmara dos Deputados seja mantido no Senado, o que o levará a seguir para a promulgação tão logo seja aprovado pela Câmara Alta. Se o conteúdo fosse modificado, a proposta teria de ser analisada novamente pelos deputados, o que seria duplamente arriscado: atrasaria a tramitação e abriria novas brechas para pressões de toda sorte a fim de desidratar ainda mais o conteúdo da PEC.
O risco não está descartado. Segundo apuração do Estadão/Broadcast, as mudanças feitas pelo senador Tasso Jereissati em relação ao BPC e às regras de concessão de aposentadorias especiais desagradaram ao governo, mas a aprovação no Senado já é dada como certa. Já a “PEC paralela” é tida como “tecnicamente perfeita”, mas de difícil aprovação. No pior cenário, ficariam mantidas as supressões previstas no relatório do senador Jereissati sem que as medidas que representam uma compensação por aquelas perdas sejam aprovadas, o que, ao fim e ao cabo, diminuiria substancialmente o montante economizado em dez anos.
A reforma da Previdência faz parte de um conjunto de medidas inadiáveis que têm o condão de trazer o País de volta aos trilhos do crescimento econômico e da geração de emprego e renda. Não há pressão maior do que esse imperativo e se espera que os parlamentares tenham consciência cívica.
Argentina paga o preço da resistência às reformas: Editorial | O Globo
No Brasil, efeito tende a ser ruim, pois trata-se do maior mercado para produtos manufaturados
Passaram-se mais quatro anos de sucessivas frustrações políticas na resolução dos problemas fiscais. E, de novo, a Argentina dá sinais de ter chegado ao limite da fragilidade econômica.
Acabou o fôlego. Em maio, o país havia acertado um socorro de US$ 54 bilhões com o Fundo Monetário Internacional. Três meses depois, governo e FMI entenderam que se havia chegado à exaustão.
No início do mês, o governo tomava empréstimos para pagar 80% da dívida externa que estava vencendo. Na semana passada, já não conseguia crédito para cobrir mais do que 10% das suas necessidades.
A corrosão da capacidade de pagamento do setor público se deve a uma longa crise de confiança, emulada pelos próprios argentinos, e que se expressa no descontrole da inflação e na desvalorização da moeda, o peso. É um processo de liquefação da riqueza nacional, com destruição em massa de empregos.
Parte da conta deve ser debitada ao presidente Mauricio Macri, mas só em parte. Ele recebeu um país falido. Entre os anos de 2003 e 2015, a ala do peronismo liderada pelo casal Néstor e Cristina Kirchner devastou as finanças e a organização do Estado argentino.
Elas já estavam combalidas desde o ocaso da ditadura militar, com a tragédia da Guerra das Malvinas, perdida para o Reino Unido em 1982. Os Kirchner, no entanto, conseguiram ir além, desperdiçando uma oportunidade dourada ao optar por um receituário populista, como faziam Lula e Dilma no Brasil.
Durante o recente ciclo de valorização de preços das commodities, duplicaram os gastos públicos: passou de 23% para 43% do Produto Interno Bruto, nos cálculos do FMI. O objetivo era se manter no poder.
Passada a bonança, veio a conta do desperdício. Macri conquistou a presidência, mas errou na lassidão com as reformas necessárias. O gradualismo não foi suficiente para conter a inflação, e a consequência política foi o voto de protesto nas eleições primárias do início do mês, contra a reeleição de Macri.
A perspectiva de retorno ao populismo kirchnerista grassou a réstia de confiança na economia. Na reta final da campanha, burocratas se mostraram preocupados com a repercussão e rotularam o problema como “reperfilamento” da dívida. É questão semântica. Chame-se moratória, reestruturação ou reperfilamento, o fato é que, durante o jantar dos argentinos, na quarta-feira, o governo anunciou que o país quebrou, mais uma vez. É o custo da resistência à reforma do Estado, sempre adiada.
Para o Brasil, o efeito tende a ser ruim, mesmo que o país ostente US$ 420 bilhões em reservas.
O cenário indica mais perdas em exportações. Elas caíram 40% entre janeiro e julho, em comparação com igual período do ano passado. Trata-se do maior mercado para produtos manufaturados brasileiros, sobretudo bens de capital.
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