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Se não mudar, adeus reeleição
Compreensível que muita gente considere que sempre há uma jogada maquiavélica por trás de cada ação aparentemente estapafúrdia do presidente Jair Bolsonaro.
Uma inteligência superior que escapa ao nosso entendimento, mas que um dia se revelará de forma surpreendente, empurrando o capitão para os píncaros da glória.
O contrário seria reconhecer que Bolsonaro é um desastrado e o maior adversário do seu governo até aqui. Pois é o que ele de fato é. A pesquisa Datafolha, divulgada hoje, só reforça essa certeza.
A desaprovação a Bolsonaro cresce a galope. Ele é o presidente pior avaliado em oito meses de governo desde Fernando Henrique Cardoso em 1995.
Sua rejeição aumenta entre os que estão no topo da pirâmide social e entre os que estão na base. É maior no Nordeste, mas o Sul e o Sudeste começam a enxergá-lo com maus olhos.
Um terço dos brasileiros acham que a conduta de Bolsonaro não condiz com a de um presidente. Quase 45% dizem nunca confiar no que o ele diz. 62% creem que ele fez menos do que o esperado.
Dizem seus partidários que Bolsonaro só precisa manter o apoio de 30% dos brasileiros que lhe deram seu voto no ano passado para ter vaga assegurada no segundo turno da eleição de 2022.
Podem estar certos. Mas por que abrir mão do contingente que votou nele? Por que continuar perdendo votos? Por que acreditar que no futuro automaticamente os recuperará?
De tão fora dos padrões que foi a eleição passada, é difícil que ela se repita. O líder das pesquisas de intenção de voto até agosto último está preso. E se for mandado para casa não será candidato a nada.
A recuperação da economia é lenta, assim como a queda do número de desempregados. A reforma da Previdência foi aprovada, mas os sinais da volta dos investimentos ainda são pálidos.
O governo mal terá dinheiro para pagar suas obrigações no próximo ano. Para investir, quase nada. Por falta de base parlamentar, Bolsonaro seguirá perdendo a queda de braço com o Congresso.
Ele tem muito tempo à sua frente para recuperar-se. Mas também muito tempo para enterrar-se de vez. Para recupera-se teria que mudar radicalmente seu comportamento. Quem acredita nisso?
Não se descarte a existência de um eventual acordo secreto para que ele governe por dois anos e ceda o lugar ao vice-presidente Hamilton Mourão Filho, que se revela mais sensato e mais bem preparado.
Afinal, nunca esteve no plano original de Bolsonaro se eleger presidente. Foi candidato para ajudar a reeleger os filhos e assegurar o futuro da família. Deu errado – e é o país quem paga a conta.
Quem com BIC fere com BIC será ferido
Persona non grata
O embaixador francês no Brasil, Michel Miraillet, caiu em desgraça no Palácio do Planalto por causa de uma resposta que deu ao presidente Jair Bolsonaro.
Na última quinta-feira, em sua transmissão semanal ao vivo no Facebook, Bolsonaro anunciou que doravante não usaria mais a caneta BIC para assinar seus despachos.
Por quê? Ora, porque BIC é uma marca francesa. E Bolsonaro se acha em guerra com o presidente francês Emmanuel Macron por conta da devastação da Amazônia.
Na sexta-feira, sem desrespeitar as normas de elegância que orientam a atuação de diplomatas em qualquer parte do mundo, Miraillet postou no Twitter:
“Sim, o BIC é francês… mas ele também é brasileiro! O BIC é um dos principais empregadores de Manaus e provavelmente centenas de colaboradores ficarão surpresos com o fato de essa realidade ainda não ter atingido o Planalto”.
Diplomatas experientes do Itamaraty comemoraram a resposta sem fazer alarde. Por ali, desde que o embaixador neófito Ernesto Araújo assumiu o Ministério, as normas da boa educação estão em baixa.
No site oficial da BIC consta que a empresa está no Brasil desde 1956 e que emprega mais de 1.200 pessoas em diversas regiões do país produzindo itens de papelaria, lâminas e isqueiros.
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