segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Ricardo Noblat - O general e a “loura maluca”

- Blog do Noblat | Veja

A sensação do governo (no momento)

Gabinete de Segurança Institucional, apontado como o intelectual do governo e principal conselheiro do presidente Jair Bolsonaro. Até que Bolsonaro esvaziou os poderes de Heleno e, hoje, ele funciona apenas como conselheiro e acompanhante de luxo.

Depois foi o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ministro da Secretaria do Governo, amigo de Bolsonaro há mais de 40 anos, o único dos seus auxiliares que o chamava de “você” e o censurava se necessário. Santos Cruz foi abatido por mensagens disparadas no Twitter pelo vereador Carlos Bolsonaro, o Zero Dois.

O sucessor de Santos Cruz, general Luiz Eduardo Ramos, também paraquedista como ele e Bolsonaro, é a nova sensação do governo. Simpatia em pessoa, com livre trânsito no Congresso, surpreende os que o conhecem pela franqueza e sem cerimônia com que se refere a alguns dos seus colegas. Sobra para quase todos.

Segundo a mais recente edição do TAG Reporter, das jornalistas Helena Chagas e Lydia Medeiros, o ministro Onyx Lorenzoni, chefe da Casa Civil da presidência da República, é um dos alvos preferidos do general que o critica por ter procedido mal ao fazer determinados acordos com partidos para a cessão de cargos.

Não escapa nem o ministro Paulo Guedes, da Economia. Para Eduardo Ramos, Guedes promete, promete, mas não entrega. Em reuniões com parlamentares, ele já usou a expressão “loura maluca” para bater na deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), líder do governo no Congresso. O general está com a língua solta.

Há pouco mais de 15 dias, durante um encontro com a bancada de parlamentares federais do Paraná, depois de fazer as restrições de praxe a seus colegas, o general ouviu do deputado Ricardo Barros (PP), ex-ministro da Saúde do governo Michel Temer:

– Presidente não demite deputado, mas deputado demite presidente.

O general engoliu a seco.

A dor de cabeça de Bolsonaro

Tem uma pedra no meio do caminho
Nem o candidato do PT, que só será conhecido em cima da hora, mas que poderá partir de um patamar de intenção de votos na casa dos 20%. Nem o candidato do PSDB, talvez – quem sabe? – João Doria, governador de São Paulo, que atrairia o apoio de siglas do Centrão, tais como o DEM, o PSD e outras menos votadas.

Tampouco o apresentador de televisão Luciano Huck, que mais uma vez poderá ficar onde está para não perder a montanha de dinheiro que ganha e não ter que enfrentar o desconhecido. Sérgio Moro seria um pesadelo indesejável, mas ele se verá tentado a aceitar a indicação para ministro do Supremo Tribunal Federal.

Por ora, o que mais incomoda e mete medo em Jair Bolsonaro é ter que disputar a reeleição tendo como um dos seus competidores o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC). O Rio é a principal base eleitoral dos dois. E Witzel, mais do que os outros, está sabendo se apropriar do discurso que rendeu muitos votos a Bolsonaro.

A guerra contra bandidos fez parte do tripé do discurso bolsonarista junto com o combate à corrupção e o antagonismo ao PT. Eleito, Bolsonaro limitou a guerra contra bandidos à maior facilidade para a compra e ao porte de armas. O resto ficou por conta do pacote anticrime de Moro, desfigurado no Congresso.

Witzel, não. Fez da guerra contra o crime organizado a principal vitrine do seu governo. Deu liberdade à polícia para atirar na cabecinha de quem seja visto armado com um fuzil ou mesmo desarmado. E se isso horroriza parte dos cariocas, parece ser à menor parte deles. É nisso que aposta o governador.

Se Bolsonaro pode alardear que nenhum caso de corrupção abalou seu governo até agora, Witzel também pode. Mas com uma diferença em desfavor de Bolsonaro: o presidente tem enfraquecido a luta contra a corrupção desde que sua família começou a ser investigada por mal uso de dinheiro público.

No mais, como ex-juiz, Witzel exerce forte influência junto ao Ministério Público do seu Estado. Bolsonaro desconfia que ele esteja por trás do empenho dos procuradores em investigar os rolos de sua família. Essa seria uma das vantagens que Witzel não abrirá mão em explorar no momento devido.

Quanto ao antagonismo ao PT, Bolsonaro continua em melhor situação do que Witzel, que tenta parecer menos extremista do que ele. Mas isso poderá se converter em uma vantagem para o governador se os eleitores em 2002 preferirem um candidato mais ao centro e menos radical do que Bolsonaro.

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