- Folha de S. Paulo
Em condições normais, todo brasileiro deveria torcer pelo crescimento da economia
O futuro é contingente, mas o fator que, isoladamente, mais contribui para determinar o resultado de uma eleição é o desempenho econômico. Isso significa que um crescimento robusto ampliaria a chance de Jair Bolsonaro ser reeleito em 2022, enquanto uma trajetória mais vacilante multiplicaria a probabilidade de ele cair fora. A pergunta que proponho ao leitor que zela pelo avanço civilizacional é se devemos torcer por uma recuperação forte ou por algo mais titubeante.
Em condições normais, todo brasileiro que não seja um sádico deveria torcer para que a economia do país cresça sempre o máximo possível, independentemente de qual seja o governo. Ainda que a distribuição da prosperidade não seja equânime, ela acaba em algum grau beneficiando a todos. Há algo no governo Bolsonaro que justifique suspender o axioma de torcer a favor e nos autorize a desejar um desempenho econômico claudicante?
Não creio que o presidente e seus filhos tenham condições de pôr fim à democracia, mas está mais do que claro que a atual gestão já trouxe graves prejuízos a áreas como preservação ambiental, direitos humanos, ciência, educação e cultura. Com um eventual segundo mandato de Bolsonaro, o estrago seria muito maior, porque a distribuição dos danos não é linear.
Um bom exemplo é o do STF. Se Bolsonaro ficar quatro anos, nomeará ao menos dois ministros para a corte. Se ficar oito, mais dois. Com o primeiro par ele conseguirá puxar para o lado conservador questões em que o STF está dividido, mas, com um quarteto, poderá reverter até teses hoje folgadamente majoritárias. Não será uma surpresa se uma corte terrivelmente evangélica revisar a autorização para o aborto de anencéfalos, para citar um único caso.
Ainda não cheguei a um juízo definitivo sobre a minha torcida, mas, diante da não linearidade dos prejuízos, compreendo as razões daqueles que já "secam" a economia.
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