- Folha de S. Paulo
Se o seu AI-5 não vier e a Constituição continuar valendo, Eduardo Bolsonaro talvez precise mesmo sair correndo
Na terça da semana passada (22), Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do presidente, saiu correndo pelo Congresso, fugindo dos repórteres que queriam entrevistá-lo. Eduardo Bolsonaro acabara de se entronizar como líder do PSL na Câmara, o que, para os jornalistas, justificava uma entrevista. Sem explicação, valeu-se de seu preparo físico, arrancou em disparada e fez comer poeira os que, perplexos, tentaram segui-lo.
Na corrida em que bateu o recorde de velocidade nos três anexos da Câmara, Eduardo Bolsonaro abalroou vários incautos que cometeram o erro de estar no seu caminho e voou por uma escada rolante, saltando de cinco em cinco degraus. Seu segurança, tentando acompanhá-lo, deixou cair o celular e, na obrigação de recuperar o aparelho, ficou vários focinhos atrás do patrão. E o pobre cinegrafista do Congresso em Foco tinha não só de correr além de suas forças como tentar manter a câmera minimamente sem tremer —o que, claro, não conseguiu. O vídeo, disponível na internet, lembra os filmes do antigo Cinema Novo.
Por que Eduardo Bolsonaro saiu correndo se ninguém ali o ameaçava, exceto talvez com perguntas? Uma hipótese seria a de um súbito e urgente compromisso no banheiro. Mas, então, por que escolher um banheiro tão longe? Ou talvez só não quisesse dar entrevista —direito que não lhe assiste. Pois surge agora outra hipótese: já prevendo o momento em que ameaçaria o país com um novo Ato Institucional nº 5 —e desconfiando que talvez não ficasse impune por tal afronta—, Eduardo Bolsonaro já começou a treinar para a eventualidade de, um dia, ter de fugir às pressas.
O Congresso, as Forças Armadas e o povo brasileiro sabem muito bem o que lhes custou o AI-5. Eduardo Bolsonaro parece não saber.
Mas, se o seu AI-5 não vier e a Constituição continuar em vigência, ele talvez não seja mais deputado federal.
*Ruy Castro, jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
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