sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Bernardo Mello Franco - Bolsonaro e o populismo pau de arara

- O Globo

Bolsonaro ameaçou usar um instrumento de tortura para punir ministros que se corromperem. Faltou dizer que ao menos quatro figurões do governo já estão sob suspeita

Jair Bolsonaro lançou uma nova bravata para agitar seus radicais de estimação. Em visita ao Tocantins, ele prometeu punir com castigos físicos o ministro que se envolver com escândalos de corrupção. “Se aparecer, boto no pau de arara”, afirmou.

O pau de arara é um instrumento de tortura que usa uma barra de ferro para imobilizar o prisioneiro. Pendurado de cabeça para baixo, ele fica exposto a outros maus-tratos, como choques elétricos e afogamentos.

A Constituição proíbe a tortura, mas o presidente não se importa em banalizá-la em falas oficiais. É o que ele faz desde o tempo de deputado, quando exaltava a ditadura e pregava o fuzilamento de adversários.

O discurso de Palmas foi surpreendente por outra razão. Ao ameaçar os próprios ministros, Bolsonaro se expôs ao risco de frustrar os seguidores mais fiéis. Ao menos quatro figurões da Esplanada estão sob suspeita. Para não falar do primeiro-filho, que voltou a ser investigado no caso das rachadinhas.

O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, é o mais encrencado. Foi denunciado pelo Ministério Público em outubro, acusado de chefiar um esquema de candidaturas laranjas em Minas Gerais.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, já foi condenado numa ação de improbidade administrativa. O chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, admitiu ter recebido dinheiro de caixa dois. O secretário da Cultura, Roberto Alvim, é investigado por dispensa ilegal de licitação. Ele tentou contratar a própria mulher para comandar um projeto de R$ 3,5 milhões.

No discurso de ontem, Bolsonaro apelou a outras armas do populismo pau de arara. Ele disse que “a mentira está na alma do político”, como se não fosse um profissional do ramo desde 1988. Depois pregou o trinômio “Deus, pátria, família”, lema de regimes autoritários desde a ditadura de Salazar.

Em busca de aplausos fáceis, o presidente atacou a “indústria da multa” e disse que os radares de velocidade “não servem para nada”. Desde que ele mandou desligar os equipamentos, os acidentes graves voltaram a se multiplicar nas rodovias federais.

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