Tucanos repudiaram ataques a instituições durante congresso do partido, que colocou Doria e Leite no centro de disputa interna por 2022
Camila Turtelli Idiana Tomazelli | O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Sem citar diretamente o presidente Jair Bolsonaro, o PSDB aproveitou seu congresso, ontem, para reforçar seu distanciamento do Palácio do Planalto. Críticas a atitudes consideradas autoritárias, negação à pauta de costumes e repúdio a “governos que investem contra instituições” sinalizaram a posição do partido, que prepara o tom do discurso para a corrida à Presidência da República em 2022 e já vive uma disputa interna para definir o candidato tucano.
A estratégia mira a recuperação de parte do eleitorado que abandonou a sigla e abraçou a campanha de Bolsonaro ano passado. Mas até a próxima campanha, o governador de São Paulo, João Doria, então o único nome cotado no partido para a disputa, pode ter de enfrentar um concorrente interno: o governador gaúcho Eduardo Leite, recentemente elogiado como exemplo de “renovação política” pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que não compareceu ao congresso.
Durante o evento, as lideranças do PSDB procuraram passar a impressão de união. Doria e Leite tentaram afastar rumores sobre a disputa entre os tucanos mirando 2022, trocaram afagos e posaram para fotos.
O aceno inicial partiu de Leite, que foi o primeiro dos governadores chamados ao palco e subiu sob gritos de “Eduardo 2022” por parte da plateia. Ao comentar as eleições para presidente, cumprimentou Doria. Os dois apertaram as mãos e deram um abraço. “Um grande parceiro”, disse o gaúcho. “A gente está junto pelo Brasil. Não tem disputa nenhuma.”
Em seguida, Doria discursou ao público sob gritos de “Brasil pra frente com Doria presidente” e defendeu uma parceria com Leite em “ideias e princípios” em nome de um projeto para o País.
Em entrevista exclusiva ao Broadcast Político, o tucano evitou falar sobre uma possível disputa interna com Leite, mas deixou claro que defende as prévias. “Temos de defender o princípio e não os nomes”, disse.
Camisetas. Sem a presença de algumas das principais estrelas do partido, Doria e Leite acabaram dividindo os holofotes. Embora ausente, FHC estampou camisetas que eram vendidas com o seu rosto por R$ 45. Também não compareceram o ex-governador de São Paulo e candidato derrotado à Presidência em 2018 Geraldo Alckmin e o deputado Aécio Neves (MG), que enfrentou neste ano um pedido de expulsão no conselho de ética, mas acabou salvo.
Doria negou que o partido esteja fazendo uma guinada à direita.
“Entendemos que o campo liberal é o campo que pode mudar o Brasil, na geração de empregos e oportunidades”, afirmou. “Extremo não vai conduzir o Brasil a nenhum campo. Não há endireitamento do PSDB”, afirmou.
Os posicionamentos da sigla foram expressos em um manifesto, com o título “Acima de tudo, democracia”, que remete ao slogan da campanha de Bolsonaro no ano passado (“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”). “Sempre que o governo, qualquer governo, investe contra as instituições, age com desrespeito e intolerância, ameaça a nossa democracia, as liberdades, adota iniciativas e atitudes autoritárias e anti civilizatórias”, afirma o documento.
Os tucanos também tentaram consolidar uma mudança programática, com diretrizes baseadas em consulta feita pela internet com sua militância. Algumas dessas bases apresentadas no evento foram a manutenção do programa Bolsa Família, como uma política de Estado inscrita na Constituição, apoio às privatizações e adoção do voto distrital.
Quadros. O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, disse não abrir mão de candidato próprio para a próxima eleição presidencial e avisou que vai lutar para retomar protagonismo no campo de centro da política.
Araújo citou Doria como exemplo de “força” dentro do partido, mas não deixou de mencionar que o PSDB tem quadros importantes. “O PSDB continua sendo um partido com alternativas, com a força do governador João Doria, com quadros importantes. O PSDB está vivo e o Congresso mostra que sua base movimenta partido como um todo”, afirmou.
O presidente do partido disse ainda que o PSDB “não busca extremos”. Segundo Araújo, há muitos “se” até a eleição de 2022, mas assegurou que é possível contar com uma candidatura própria do partido ao Planalto.
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