- Folha de S. Paulo
Nos 25 anos de sua morte, parte da obra de Tom Jobim enfrenta o silêncio
Todo mundo conhece pelo menos cinco canções de Tom Jobim. As que vêm primeiro à mente, e com razão, são “Chega de Saudade”, “Samba do Avião”, “Garota de Ipanema”, “Wave” e “Águas de Março”. Outros serão capazes de citar as quase tão famosas “Desafinado”, “Corcovado”, “Dindi”, “Sabiá” e “Retrato em Branco e Preto”. Muitos se lembrarão de “Só Danço Samba”, “Chovendo na Roseira”, “Lígia”, “Gabriela” e “Anos Dourados”. E os sofisticados falarão de “Modinha”, “O Grande Amor”, “Passarim”, “Borzeguim” e “Two Kites”.
Um universo de 20 fabulosas canções. Se isso parece pouco —pouco?—, é porque o próprio Tom, em suas apresentações com a Banda Nova nos últimos dez anos de vida, fez delas a base de seu repertório. Como não havia muito tempo para ensaios, era difícil incluir variações —exceto, às vezes, “Samba de Uma Nota Só”, “Correnteza”, “Bonita”, “Luiza”, “Chansong”. E, com isso, dezenas de outras pequenas obras-primas podem estar sendo excluídas do cânone.
“Teresa da Praia” continua popular, mas e “Aula de Matemática”, “Olha Pro Céu” e “As Praias Desertas”? Quantos ainda se lembram de joias da sua fase samba-canção, como “Foi a Noite”, “Se Todos Fossem Iguais a Você”, “Eu Sei Que Vou Te Amar”, “Estrada do Sol” e “Por Causa de Você”? Ou mesmo dos primeiríssimos clássicos da bossa nova, como “Só Em Teus Braços”, “Este Seu Olhar”, “Brigas Nunca Mais”, “Vivo Sonhando” e “Amor em Paz”?
Um dia, “A Felicidade”, “Lamento no Morro”, “Demais”, “Surfboard” e “Ela É Carioca” continuarão a ser escutadas? E “Insensatez”? E “Meditação”? E “Fotografia”? E “Inútil Paisagem”? E “O Morro Não Tem Vez”?
Eu sei, a obra de Tom, sozinho ou com parceiros, parece inesgotável e indestrutível. Mas seu inimigo, o silêncio, está à espreita. Que os 25 anos de sua morte, hoje, nos alertem para a ameaça de dissolução de mais um patrimônio brasileiro.
*Ruy Castro, jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
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