sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Nelson Motta - Drama, comédia e farsa

- O Globo

Regina deveria demitir toda a assessoria de olavistas de Alvim

A ascensão e queda de Roberto Alvim foi uma farsa megalômana que virou um drama real, depois uma comédia de erros, e terminou como tragédia chinfrim. Com muitos anos de vivência no teatro como autor e diretor, Alvim encenou meticulosamente o seu monólogo triunfal, com o cenário, o figurino, o corte de cabelo, a atitude de um cruzado guerreiro e música de Wagner para dar grandiosidade. Só não imaginou que o protagonista se mostrasse um canastrão, falando como um ungido de Deus e pregando uma espécie de nacionalismo nazicristão.

Esse tal de Roberto Alvim, como o chamava Bolsonaro, pode ser meio louco, mas não é burro. Se não fosse ignorante, conheceria e nunca repetiria a citação de Goebbels no discurso fatídico, seria uma provocação inútil e perigosa. Algum assessor malvado, ou conspirando para derrubá-lo, sugeriu a citação e Alvim adorou, expressava suas ideias sobre a nova arte brasileira, cristã, heroica e de direita.

Mas quem plantou a citação fatal? Não deve ser difícil descobrir, entre os próprios assessores que participaram do discurso. A serviço de quem ?

A primeira coisa que Regina Duarte deve fazer é demitir toda a assessoria de olavistas de Roberto Alvim e cercar-se de pessoas decentes da área de cultura, com experiência em gestão e convicções democráticas. O Estado não deve fazer cultura, só estimular, sem dirigismo e com diversidade.

Além de ótima profissional, Regina é uma pessoa honesta e bem-intencionada, com intensa vivência dos problemas do teatro, do cinema e da televisão, que às vezes toma decisões e posições com mais emoção do que razão.

Mas não se pode querer tudo. Ela sabe que boas intenções não bastam e que o governo, qualquer governo, é um viveiro de conspiradores e puxa-sacos capazes de arruinar os melhores planos.

Sua missão é convencer Bolsonaro da importância econômica da indústria cultural, seus empregos, seus impostos e sua capacidade de alegrar, divertir, emocionar e informar as pessoas.

Chato é passar de namoradinha do Brasil a noiva de Bolsonaro.

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