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Recomeça a fritura do ministro
O presidente Jair Bolsonaro espera desde o ano passado a melhor ocasião para livrar-se da companhia do ex-juiz Sérgio Moro. Não o considera terrivelmente leal a ele. Não gosta de ser menos popular do que ele. Desconfia que Moro aproveita os holofotes que o cargo lhe oferece só para pavimentar sua possível candidatura a presidente da República daqui a dois anos.
Então decidiu testar mais uma vez a capacidade de Moro de engolir sapos sem pedir as contas e ir para casa. Irritado com a postura do ministro na entrevista da última segunda-feira no programa “Roda Viva”, da TV Cultura, que não teria o defendido a contento, antecipou a intenção que amadurecia: fatiar o ministério de Moro, separando a Justiça da Segurança Pública.
Foi uma trama bem urdida. Bolsonaro valeu-se do secretário de Segurança Pública de Brasília para obter o apoio à sua ideia dos demais secretários que se reuniriam em Brasília na última quarta-feira. A ideia foi aprovada por 11 deles e rejeitada por 9. Bolsonaro concordou em recebê-los em audiência, para a qual não convidou Moro. E ouviu do porta-voz deles o que sabia que ouviria.
A livrar-se de Moro, se afinal vier a ter coragem para tanto, melhor para Bolsonaro que seja já, e não às vésperas das eleições de 2022. Sem a toga à qual renunciou para servir ao candidato que mais se beneficiou dos seus atos à frente da Lava Jato, sem o cargo que lhe confere tanto relevo e protagonismo político, Moro deixaria de ser uma ameaça à pretensão de Bolsonaro de se reeleger.
Haveria outras vantagens para ele. O restaurado Ministério da Segurança Pública seria ocupado pelo ex-deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF), seu amigo de longa data e fiel cumpridor de ordens. E a Polícia Federal sairia da órbita do Ministério da Justiça onde se encontra hoje. Bolsonaro quer porque quer mandar indiretamente na Polícia Federal, e Fraga está de acordo.
A Polícia Federal acompanha de perto as atividades do clã dos Bolsonaro. No ano passado, Bolsonaro quis trocar o seu Diretor-Geral e a cúpula da organização ameaçou rebelar-se. Bolsonaro recuou, mas não se conformou com isso. Vassalo de Bolsonaro, o secretário de Segurança Pública de Brasília, que é também delegado federal, está às ordens para assumir um novo posto.
Moro foi quem começou a emitir sinais de que não está disposto a ficar como um ministro meramente decorativo. Conversou a respeito com amigos e assessores. E espera que Bolsonaro não lhe tire o que lhe deu. Do contrário, só lhe restaria pedir demissão. Uma vez que o faça, estaria à vontade para filiar-se ao partido que lhe seja conveniente e que possa amparar seus projetos futuros.
Ter Moro ao seu lado é o sonho de consumo do governador João Doria (PSDB-SP) que não esconde isso de ninguém. Doria acha que Moro poderia sucedê-lo no governo paulista. Imagina que se Moro for candidato, ele não será eleito, será ungido com uma gigantesca votação, como já disse mais de uma vez. E que assim aumentará também suas chances de suceder a Bolsonaro.
Abre-se a porta para uma reforma ministerial
Troca de peças defeituosas
Se não recuar da ideia de forçar a saída de Sérgio Moro do governo, ou mesmo que recue, o presidente Jair Bolsonaro poderá aproveitar a ocasião para livrar-se de outros ministros que não correspondem às suas expectativas ou que lhe criam embaraços.
Um deles poderá ser o do Meio Ambiente. Ricardo Salles sugeriu a Bolsonaro que elevasse o status de sua pasta vinculando-a diretamente ao seu gabinete ou ao do chefe da Casa Civil. Bolsonaro preferiu dar uma solução que desagradou a Salles.
Criou o Conselho da Amazônia que cuidará de tudo que tenha a ver com os povos indígenas, inclusive a preservação da natureza. E pôs na presidência o general Hamilton Mourão, seu vice. Foi uma forma disfarçada de intervir na área do ministro.
Como um bom militar, e como se queixava de estar sendo apenas um vice-presidente decorativo, Mourão ocupará todo o espaço que possa. E contará para isso com o apoio dos seus ex-colegas de farda. Em breve, se tornará uma referência mundial no assunto.
A entrada no governo da atriz Regina Duarte, “a namoradinha do Brasil”, dará também ao governo ares de renovação. Por que não trocar outras peças defeituosas? No radar de Bolsonaro, os ministros do Desenvolvimento Regional e da Educação.
Bolsonaro tem horror a fazer o que a imprensa antecipa. Inúmeras vezes adiou a divulgação medidas só pelo prazer de acusar a imprensa de publicar fakenews. Mas é fato que se discute no seu entorno as vantagens de uma reforma ministerial.
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