- O Globo
Os problemas são muitos, alguns acumulados durante décadas, mas todos podem ser resolvidos com vontade política e competência de gestão
Não tem nada de pessoal. Mas em 2019 o Rio chegou ao fundo do poço. As crises da saúde e da segurança, para só citar estas, não tiveram precedentes, e é difícil saber qual das duas foi mais grave.
A primeira atingiu os hospitais federais, estaduais e municipais, em cujos corredores pacientes morreram por falta de médicos, de remédios ou de assistência. Ou de tudo isso. A segunda caracterizou-se pela marca registrada da cidade: as balas perdidas.
Elas se especializaram em vítimas infantis. Houve crianças de todas as idades. Chegou-se ao extremo paradoxo de matar a tiros até quem não havia nascido, como o caso da senhora grávida atingida por balas. Ela fez cesariana e salvou-se, mas o bebê, não. O ano termina de luto também pelas outras seis crianças executadas em poucos meses.
Bem-vindo 2020. Faço minhas as palavras dos 13 “especialistas em Rio” que o jornal convidou para falar de seus desejos e sugestões para a cidade e o estado, cada um ou uma em sua área: Sérgio Magalhães (arquitetura), Cláudia Costin (educação), Roberto Medina (turismo), Washington Fajardo (urbanismo), Mário Moscatelli (meio ambiente), Gil Catello Branco (administração), Ilona Szabó e Melina Risso (segurança), Viviane Mosé (social), Elena Landau (economia), Eva Vider (transporte), Paulo Betti (cultura), Roberto Medronho (saúde).
Aliás, como é ano de eleições municipais, sugiro aos que pretendem se envolver com elas lerem e recortarem a matéria que o jornal publicou no último domingo. Pode funcionar como pauta. Nenhum dos entrevistados propõe mágica ou soluções mirabolantes para que o Rio seja a cidade da beleza sem ser do caos.
Os problemas são muitos, alguns acumulados durante décadas, mas todos podem ser resolvidos com vontade política e competência de gestão, mesmo a distância entre as classes. Isso porque o nosso apartheid não é, como em outros lugares, religioso, étnico, racial ou cultural. É social. Não temos fundamentalismo.
O Rio tem saída e não é, como diz a velha piada, o Galeão.
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