- O Globo
Enquanto o mundo se mobiliza para tentar conter o coronavírus, Bolsonaro diz que a doença “não é isso tudo”. Suas falas mostram ignorância e falta de conexão com a realidade
É uma questão de tempo. O coronavírus mal chegou ao Brasil e já provocou um tombo histórico no mercado financeiro. Em poucas semanas, deve causar estragos ainda maiores na saúde pública.
A pandemia pôs o planeta em alerta, mas não parece preocupar Jair Bolsonaro. Na terça-feira, ele disse que o assunto não passa de “uma pequena crise”. “No meu entender, muito mais fantasia. A questão do coronavírus não é isso tudo que a grande mídia propala”, opinou.
As declarações mostram um presidente desconectado do mundo real. Enquanto outros líderes anunciam medidas contra a doença, Bolsonaro tenta negar sua gravidade. Nas horas vagas, brinca de colorir. Foi o que ele fez ao se exibir com um pincel diante de uma tela de Romero Britto, pintor preferido dos brasileiros em Miami.
“É lamentável que o chefe maior da nação adote este comportamento. As falas dele têm impacto, atingem milhões de pessoas”, critica o epidemiologista Roberto Medronho, professor da UFRJ.
Num governo avesso ao conhecimento e à ciência, o ministro da Saúde tem se destacado pela atuação sóbria. Avesso a teorias conspiratórias, Luiz Henrique Mandetta emerge como uma figura equilibrada na crise. Não é pouco. Seu colega Abraham Weintraub, titular da Educação, já usou uma suspeita de coronavírus para incitar o ódio contra uma pesquisadora.
O professor Medronho elogia a conduta de Mandetta, mas lembra que os maiores desafios ainda estão por vir. Em meados de abril, o número de registros da doença tende a disparar. Isso deverá sobrecarregar a rede de atenção básica e os hospitais. “A pergunta não é mais se a epidemia vai chegar ao Brasil, e sim quando ela vai chegar. As autoridades precisam apresentar logo um plano detalhado do que pretendem fazer”, cobra.
Ontem a OMS informou que já estamos diante de uma pandemia global. Questionado sobre a notícia, Bolsonaro voltou a se escudar na ignorância. “Eu não sou médico, não sou infectologista. O que eu ouvi até o momento é que outras gripes mataram mais do que esta”, disse. Se for para repetir coisas assim, é melhor o capitão se ocupar com livros de colorir.
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