- O Estado de S. Paulo
Só se reconstrói a economia se mantivermos a curva de contaminação achatada
Diante da maior crise mundial de saúde em mais de cem anos, com profundos reflexos econômicos, há atitudes que autoridades podem e devem adotar. A primeira é tomar decisões com base em informações técnicas. Falar a verdade. Informar a população com transparência e fornecer dados reais. De maneira serena e equilibrada. E procurar unir as pessoas e o seu país. Esse tem sido o exemplo dos líderes mundiais de maior sucesso na guerra contra a covid-19.
São Paulo foi o primeiro lugar a instalar, no Brasil, um Centro de Contingência contra o Coronavírus. Desde o primeiro caso da covid-19, em 26 de fevereiro, implantamos gradativamente medidas de prevenção do contágio, limitando eventos públicos e recomendando a suspensão de atividades como cinemas, espetáculos e shoppings, até decretar a quarentena de 15 dias, em vigor desde 24 de março.
Inicialmente, reduzir o contágio é a forma correta de combater a nova doença, salvando o maior número possível de vidas. Ao mesmo tempo é preciso enfrentar os problemas decorrentes da pandemia com ações nas mais diversas frentes. Na área econômica, garantir os serviços essenciais e manter o maior nível de atividade possível das empresas.
O sistema financeiro e as empresas precisam ter a garantia de liquidez para evitar estrangulamento e a retroalimentação de uma crise superável, esclarece nosso secretário de Fazenda, o ex-ministro Henrique Meirelles. Em São Paulo, liberamos R$ 500 milhões de crédito subsidiado para empresas, por meio da DesenvolveSP e do Banco do Povo. Suspendemos o protesto de dívidas de pessoas físicas e empresas por 90 dias.
Na área social, as autoridades devem organizar atendimentos específicos que preservem a segurança sanitária e alimentar dos mais carentes. Isentamos por 90 dias as famílias que pagam a tarifa social de água e fizemos acordos para evitar o corte de energia elétrica e gás das famílias de baixa renda. Anunciamos o programa Merenda em Casa, com repasse de R$ 55 mensais por criança, para garantir a segurança alimentar de 700 mil alunos inscritos no cadastro único. A rede Bom Prato fechou os salões e passou a entregar a comida em pratos descartáveis.
Uma pandemia como a de covid-19 exige medidas extraordinárias, ainda que temporárias. Mais de 50 países já estão adotando restrições à circulação de pessoas como forma de evitar a propagação desenfreada da doença. Esse número cresce a cada dia. Nesse momento, quase metade da população do planeta está aconselhada, ou obrigada, a permanecer em casa.
São Paulo não é uma ilha, o Brasil não é uma ilha. Forças e fraquezas humanas são semelhantes diante do vírus. Fazemos parte da mesma comunidade global, com economias integradas e fluxo intenso de pessoas e mercadorias. Estamos sujeitos aos mesmos riscos e somos beneficiados pelas mesmas medidas comprovadamente bem-sucedidas de países que já atravessaram a fase mais crítica da epidemia.
É fundamental apoiar e financiar cientistas e pesquisadores que estão em busca de uma vacina. E também facilitar o trabalho de quem estuda o uso de medicamentos para conter os efeitos mais graves da doença. Os esforços prioritários são para melhorar os serviços de saúde e, assim, salvar mais vidas.
Quem não adotou medidas preventivas viu os hospitais em colapso e sofreu impacto econômico ainda pior. Mais pessoas morreram, maior foi o sofrimento da população e mais dramático o prejuízo econômico. É por isso que, em primeiro lugar, devemos salvar vidas. Com saúde vamos, um pouco mais adiante, retomar a normalidade, recuperar a economia, voltar a abraçar as pessoas que nos são mais queridas.
A grande maioria da população entendeu as necessidades das medidas excepcionais, oferecendo colaboração e solidariedade a quem precisa. Como nos ensinou irmã Dulce, nossa Santa Dulce dos Pobres, “as pessoas que espalham amor não têm tempo, nem disposição, para jogar pedras”.
Estamos ganhando dias preciosos para produzir mais testes e diagnosticar com exatidão. Vamos completar a vacinação contra a gripe, para dar mais proteção às pessoas dos grupos de risco. Fabricar equipamentos de ventilação, que garantem a sobrevivência nos casos graves da covid-19, e instalar milhares de leitos para atender pacientes que ainda vão manifestar os sintomas da doença. Preparar mais equipes de saúde, médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares, para o atendimento a quem ainda vai precisar.
Quanto mais unidos trabalharmos agora, mais cedo recuperaremos a esperança de dias melhores. O passo inicial é controlar a epidemia. Neste momento, só se reconstrói a economia se mantivermos a curva de contaminação achatada, testando os casos suspeitos e oferecendo tratamento aos pacientes em estado grave. São ações urgentes, que demandam dos governantes espírito de união e cooperação. Serenidade e equilíbrio serão ainda mais fundamentais para a adoção de novas medidas de enfrentamento da pior crise global desde a 2.ª Guerra Mundial. São Paulo faz parte desse esforço mundial. E juntos vamos superar a crise.
*Governador do Estado de São Paulo
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