segunda-feira, 23 de março de 2020

Leandro Colon – O que diz o povo

- Folha de S. Paulo

O Datafolha deveria assustar quem tanto explora a retórica de que está com a população

Não são apenas os panelaços nas janelas de prédios que refletem a insatisfação da população com o menosprezo de Jair Bolsonaro à escalada do coronavírus pelo país.

Pesquisa Datafolha divulgada nesta segunda-feira (23) é um recado bem dado e importante das ruas à figura do presidente da República.

Os números deveriam assustar quem tanto explora a retórica de que está com o "povo". Além de peças políticas, como o Congresso e os estados, boa parte da população que ele tenta usar de escudo também reprova sua atuação na crise do vírus.

Os trancafiados em casa para não pegar a doença têm apreço ao Ministério da Saúde, sob Luiz Henrique Mandetta, e ao comportamento dos governadores. Ao mesmo tempo, rechaçam a postura de quem deveria ser o 01 no combate à pandemia.

Enquanto o brasileiro se isola em casa, Bolsonaro faz o mesmo no Alvorada, não para evitar o vírus que chama de gripezinha, e sim porque os demais personagens não enxergam nele alguém com capacidades política e psicológica para liderar.

O Datafolha mostra que 55% dos brasileiros consideram ótimo ou bom o desempenho da pasta da Saúde, percentual similar (54%) ao dos que aprovam a reação dos seus governadores. Questionados sobre Bolsonaro, só 35% responderam positivamente sobre sua conduta na crise.

Para piorar o cenário, 68% reprovam o gesto irresponsável do presidente de se juntar a uma aglomeração na rampa do Palácio do Planalto, durante a manifestação do último dia 15, e cumprimentar as pessoas.

Bolsonaro tem sido um desastre, e sua imagem se deteriora. Ele fez um aceno no fim de semana, destacando a preocupação com o coronavírus —não sem antes deslizar com um vídeo tosco, gravado pelos filhos amalucados, anunciando a produção de um remédio que ainda não tem eficácia comprovada contra o vírus.

Prevê-se que a pandemia esteja controlada em poucos meses no país. Já a permanência de Bolsonaro na cadeira de presidente até 2022 torna-se cada vez dia mais improvável.

Nenhum comentário: