- O Globo
Bolsonaro festejou a operação da PF contra Wilson Witzel. Está claro que houve vazamento, mas é preciso cautela com a hipótese de uma grande conspiração
Há algo no céu de Laranjeiras além dos helicópteros da TV. A Operação Placebo despertou novas suspeitas de interferência na Polícia Federal. O alvo dos homens de preto foi Wilson Witzel, adversário político de Jair Bolsonaro.
Na segunda-feira, a deputada Carla Zambelli contou à Rádio Gaúcha que a PF estava prestes a revelar desvios em governos estaduais. Aliada do presidente, ela acrescentou que as operações desvendariam fraudes na saúde. Só faltou informar a placa das viaturas que cercariam a residência do governador do Rio.
Ontem o capitão comemorou a ação contra o desafeto. Ao ser questionado sobre o assunto, ele riu e deu parabéns à PF. Mais tarde, voltou a provocar Witzel. “Tem gente preocupada, querendo botar a culpa em mim”, debochou.
O ex-juiz se declarou vítima de perseguição política. Ele recebeu a solidariedade de outros rivais de Bolsonaro. O deputado Marcelo Freixo mencionou o risco de a PF virar uma “polícia política”. O governador de São Paulo, João Doria, disse ver sinais de uma “escalada autoritária”.
Está claro que houve vazamento, mas é preciso cautela com a hipótese de uma grande conspiração. As investigações começaram em abril, antes da troca de comando na PF. As buscas foram autorizadas pelo ministro Benedito Gonçalves, do STJ. Ele apontou um vínculo “bastante estreito e suspeito” entre a primeira-dama Helena Witzel e uma empresa ligada a Mário Peixoto, preso na Operação Favorito. O enredo lembra a dobradinha de Sérgio Cabral e Adriana Ancelmo.
Irritado com a operação, Witzel disse que o senador Flávio Bolsonaro “já deveria estar preso”. O filho do presidente chamou o governador de corrupto e avisou que ele será atingido por “um tsunami que está vindo”. É possível que ambos estejam certos, mas precisamos esperar o fim das investigações.
Enquanto os dois batem boca, a saúde do Rio continua a agonizar. Ontem o Estado registrou mais 256 mortes pelo coronavírus, um recorde desde o início da pandemia.
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