quinta-feira, 14 de maio de 2020

Bruno Boghossian - Moro acobertou Bolsonaro

- Folha de S. Paulo

Ex-juiz agiu como advogado do presidente, mas agora fala em tom autoritário

Sergio Moro dormiu um sono tranquilo por 16 meses. Dias antes de pegar as chaves do Ministério da Justiça, o ex-juiz disse não enxergar “risco de autoritarismo” no governo de Jair Bolsonaro. Agora, ele afirma que a reunião que precedeu sua demissão contém “inquietantes declarações de tom autoritário”.

O ex-ministro demorou a sair do sossego. Moro foi rotineiramente sabotado e humilhado pelo chefe desde a inauguração do mandato. Mesmo assim, agiu como advogado de Bolsonaro e acobertou até as investidas mais perigosas do chefe.

Em agosto de 2019, sob pressão do presidente, Moro trocou o comando da Polícia Federal no Rio. Depois de engolir a mudança, ele espalhou a versão de que tudo era um mal-entendido. No programa Roda Viva, em janeiro, ele quis disfarçar: “Tentaram fraudulentamente colocar o presidente contra a Polícia Federal”.

Àquela altura, o ex-juiz já sabia que o desejo de Bolsonaro era derrubar o diretor-geral Maurício Valeixo —o próprio Moro reconheceu isso à PF, há quase duas semanas. Ainda assim, continuou dizendo que Bolsonaro respeitava a autonomia do órgão.

Os advogados de Moro afirmam que o ex-juiz foi ameaçado por não endossar a campanha para “minimizar a gravidade” do coronavírus. Em março, porém, ele ameaçou encerrar uma entrevista à Folha ao ser lembrado do comportamento irresponsável do presidente na crise.

O ex-ministro também diz que se tornou alvo por não aderir aos protestos golpistas a favor do presidente.

Em junho de 2019, ele festejou uma manifestação pró-Lava Jato em que houve ataques ao Supremo.

Após romper com o presidente, Moro declarou ter se tornado vítima de fake news. Meses antes, ele disse ao canal de Eduardo Bolsonaro que havia “um certo exagero” em relação à máquina de mentiras governista.

Auxiliar do ex-ministro, o juiz aposentado Vladimir Passos de Freitas afirmou que o colega “não tinha nem ideia” de como seria trabalhar com Bolsonaro. Depois de conhecer o chefe, Moro preferiu ficar calado.

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