Benefícios emergenciais atenuam queda do PIB; reduzi-los será operação complexa
Os indicadores mais recentes sugerem que o pior momento para a atividade econômica ficou para trás. Após a vertiginosa queda entre março e abril, resultante das medidas sanitárias de combate à pandemia, há uma recuperação palpável que parece continuar na entrada deste terceiro trimestre.
Consumo, produção industrial e movimento nas cidades mostram dinamismo suficiente para mitigar as expectativas mais pessimistas para o desempenho do Produto Interno Bruto neste ano.
Se, no auge da crise, algumas projeções chegaram a apontar retração da economia na casa dos 10%, hoje já se espera uma queda mais próxima de ainda alarmantes 5%.
Tamanha volatilidade em poucas semanas é evidência da gravidade da crise e de suas ramificações para todo o tecido econômico e social. Entretanto a rapidez da melhora nas estimativas tampouco deixa de ser surpreendente.
Para tanto contribuem decisivamente as políticas públicas, em especial o auxílio temporário de R$ 600 mensais direcionado aos grupos mais vulneráveis da sociedade. A pesquisa do IBGE que visa medir o impacto da Covid-19 em diferentes dimensões confirma a importância do programa.
Receberam algum tipo de benefício governamental em junho nada menos que 43% dos domicílios brasileiros, abrangendo quase a metade da população. Nos lares mais pobres, justamente os mais afetados pelo colapso da atividade, o alcance passa dos 80%.
Como solução emergencial, a manutenção do poder de compra facilita um retorno mais rápido do consumo conforme as medidas de distanciamento social vão sendo relaxadas —daí o progresso observado nas últimas semanas.
Numa perspectiva de mais longo prazo, porém, a fragilidade permanece. Nem todos os empregos serão recuperados, com riscos em especial para os de menor qualificação, mais vulneráveis às transformações legadas pela pandemia.
Nesse sentido, será política e economicamente espinhosa a redução dos auxílios emergenciais nos próximos meses. As projeções para o crescimento em 2021 permanecem tímidas —a alta esperada, em torno de 3,5%, mostra-se insuficiente para recuperar o nível de atividade do final do ano passado.
A crise consolidou a compreensão da importância de transferências diretas de renda. A possibilidade de convertê-las em algo mais permanente, mesmo que em valores menores, certamente será explorada em vários países.
No Brasil, que padece de elevada dívida pública e baixo dinamismo econômico, cumpre rever as estruturas de impostos e gastos de modo a abrir espaço para uma ação social mais decisiva e eficaz.
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