- Folha de S. Paulo
Presidente usa cadeira como chamariz, faz acenos políticos e busca proteção
Jair Bolsonaro está de olho nas cadeiras do STF desde a campanha presidencial. Naquela época, o candidato falava até em ampliar o número de ministros do tribunal, para infiltrar uma tropa inteira no plenário. “É uma maneira de você botar dez isentos lá dentro”, teorizou.
A ideia ficou pelo caminho, mas Bolsonaro continuou explorando o poder de indicação para o Supremo como chamariz. Primeiro, surfou na onda anticorrupção e fez um aceno ao segmento evangélico. Agora, ele estimula uma competição entre candidatos dispostos a oferecer proteção a seu grupo político.
O primeiro a morder a isca foi Sergio Moro. Durante a campanha, Bolsonaro agitava o eleitorado antipetista ao sugerir a indicação do algoz de Lula para a corte. Já no Planalto, o presidente dizia ter firmado um acordo com o ex-juiz da Lava Jato. “A primeira vaga que tiver, eu tenho esse compromisso com o Moro”, afirmou, em maio do ano passado.
O ministro da Justiça mal conseguiu sonhar com a cadeira. Os conflitos com o presidente se acumularam, e Moro perdeu o lugar na fila.
Contrariado com decisões como a criminalização da homofobia, Bolsonaro ofereceu uma toga aos nichos conservadores de sua base. Um ministro “terrivelmente evangélico” passou a liderar bolsa de apostas depois que o presidente descreveu o perfil que buscava para o tribunal.
Aos poucos, Bolsonaro deixou o componente ideológico de lado e sugeriu estar disposto a premiar personagens que podem blindá-lo de investigações perigosas.
Quando Augusto Aras pediu o arquivamento do inquérito das fake news, em maio, Bolsonaro disse que o procurador-geral se encaixaria bem na corte. Depois, o favorito virou João Otávio de Noronha, presidente do STJ, que tirou da cadeia o incômodo Fabrício Queiroz.
Bolsonaro poderá fazer sua escolha em menos de cem dias, após a aposentadoria de Celso de Mello. O presidente ainda quer um ministro que sirva a seus interesses políticos —mas esses interesses mudaram.
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