sexta-feira, 10 de julho de 2020

Bruno Boghossian - A elite aperta Bolsonaro

- Folha de S. Paulo

Produtores viram a boiada passar por 18 meses e agora cobram preço alto do governo

Na campanha de 2018, o empresariado deu um cheque em branco a Jair Bolsonaro. Durante um encontro com presidenciáveis daquele ano, um representante do lobby da construção civil reclamou que as leis de preservação da natureza eram "uma parafernália". Sob aplausos, o candidato prometeu "vencer os problemas ambientais" se fosse eleito.

Nenhum patrão pode se dizer surpreso com as ações do governo nessa área. Os produtores sabiam que a devastação prejudicaria a reputação do Brasil e faria mal aos negócios. Ainda assim, eles preferiram apostar num presidente que queria afrouxar restrições e carregava um ministro ultraliberal como amuleto.

Um ano e meio depois, essa parceria passou a ameaçar o caixa das empresas. Em junho, investidores que administram mais de R$ 20 trilhões avisaram que podem retirar seus ativos do país se não houver medidas sérias contra o desmatamento.

Apesar do alerta, auxiliares de Bolsonaro fizeram pouco caso. Em vez de trabalhar contra a destruição, decidiram tratar o problema como uma questão de marketing. Culparam a imprensa e planejaram gastar dinheiro em propaganda no exterior.

O governo só se mexeu depois que empresários de peso emparedaram publicamente o Palácio do Planalto. Numa carta ao vice-presidente, Hamilton Mourão, 38 executivos cobraram medidas concretas para frear o desmatamento e as queimadas.

No grupo estão integrantes do agronegócio, de mineradoras e de outros setores. Alguns aplaudiram a eleição de Bolsonaro e sua política ambiental. Agora, dizem ter dificuldade de entrar em mercados estrangeiros por causa da devastação.

Para responder, o governo anunciou a proibição de queimadas por 120 dias. Também pediu dinheiro a investidores para ampliar a preservação, embora o Ministério do Meio Ambiente tenha destruído um fundo bilionário que tinha esse propósito.

A elite empresarial viu a boiada passar por 18 meses, até perceber o custo do descaso. Agora, o preço para Bolsonaro também pode ser alto.

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