A evolução dos inquéritos caminha na direção de ligar a máquina de destruir reputações a orientações que partem do gabinete do ódio
Há uma relação inicial entre alguns dos detentores das 73 contas falsas que foram retiradas pelo Facebook na quarta-feira e os que estão aparecendo no inquérito do Supremo Tribunal Federal para apurar responsáveis por fake news e financiamento de movimentos contra a democracia. Rastros dos filhos do presidente, Carlos e Eduardo Bolsonaro, aparecem nas duas. O Supremo procura a trilha do “gabinetes do ódio” e o Facebook cancelou, sob alegação de propagação do ódio e ataques a inimigos políticos, páginas e contas feitas por Tércio Arnaud Tomaz, assessor especial da Presidência da República. Ele é ligado ao vereador Carlos Bolsonaro, investigado no Rio por empregar “funcionários fantasmas” na Assembleia Legislativa do Rio.
Assim como existe uma densa zona de sombra sobre a atuação dos Bolsonaro nas redes sociais e de seus apoiadores fanáticos, próximos ou não do presidente, no submundo das redes sociais. Respeitados os limites dados pela lei, todos eles podem despejar seu extremismo de direita à luz do dia, sem serem importunados. Não é isso, porém, o que ocorre. “As pessoas por trás da atividade coordenaram entre si e utilizaram contas falsas como parte central de suas operações para se ocultar”, disse Nataniel Gleicher, diretora de cybersegurança do Facebook. Anonimato, contas e páginas falsas, pessoas fictícias e identidades forjadas foram detectadas e removidas.
A bolsonaronewss, segundo o Facebook, é administrada por Tércio, e tinha 492 mil seguidores. Ele já era um expert na rede digital eleitoral montada pelos filhos de Bolsonaro. De lá, Tércio foi parar no terceiro andar do Palácio do Planalto, bem próximo ao gabinete presidencial. A suspeita, que a ação do Facebook realça, é de que funcionários de governo como ele e colegas do “gabinete do ódio” usam tempo de serviço, pelo qual são bem remunerados pelos contribuintes, para um trabalho que nada tem a ver com funções públicas.
Essa é uma velha característica dos Bolsonaro, filhos e pai, que vivem da política, de suas benesses e dos recursos públicos com os quais pagam pessoas que não se sabe o que fazem - e, sequer, se fazem alguma coisa. Reportagem da Folha de S. Paulo (4 de julho) revelou que nos 27 anos de atuação na Câmara dos Deputados, a folha de salários do gabinete de Jair Bolsonaro era agitada e incompreensível. Cerca de 350 pessoas passaram por lá de 1991 a 2018, 102 delas ligadas a 32 famílias (O Globo). Os vencimentos de vários funcionários triplicavam de uma hora para outra, assim como caiam logo à metade ou para valores mínimos. Muitos eram demitidos e recontratados em seguida.
Fabrício Queiroz, encrencado no escândalo das rachadinhas de que é acusado Flavio Bolsonaro, então deputado estadual, trabalhou primeiro com Jair e não foi o único a se envolver em práticas ilegais. Nove funcionários acusados por rachadinhas na Alerj já estiveram sob as ordens do pai, que também deu emprego a Nathália, filha de Queiroz, personal trainer no Rio, que não trabalhava, assim como a “fantasma” Walderice Conceição, a Wal do Açaí, que reside em Angra dos Reis. A defesa de Flavio tem se resumido, com algum sucesso, a contestar erros formais do inquérito, enquanto Flavio, que empregou a mulher de Queiroz e de milicianos, se dividiu ao longo do tempo entre alegar afastamento e elogiar Fabrício.
Outro membro do trio da fuzarca familiar, Carlos Bolsonaro, está sob investigação por usar indevidamente dinheiro público: empregar fantasmas. Mas entre seus assessores também havia gente despojada e altruísta, sempre pronta a doar parte dos salários. Quatro assessores do irmão Flávio, com sigilo quebrado, trabalharam no gabinete de Carlos na Câmara Municipal. Entre elas a ex-cunhada de Jair Bolsonaro, a Andrea Siqueira Valle (Folha de S. Paulo, ontem) e 8 parentes da ex-mulher de Jair, Ana Cristina Valle.
Rápidos em arregimentar funcionários fora do padrão, Bolsonaro e filhos, em suas vidas de parlamentares, foram improdutivos, e não se conhece um projeto deles que demonstre a mínima preocupação social, a não ser que se chame assim a campanha dos quatro pelo armamento geral e irrestrito dos brasileiros.
Isolado por ter contraído a covid-19, Bolsonaro está quieto após a prisão, na casa de seu advogado, de Fabrício Queiroz. A evolução dos inquéritos caminha na direção de ligar a máquina de destruir reputações dos bolsonaristas extremados como Carlos, seus robôs e contas falsas, a orientações que partem do gabinete do ódio, assalariado pelo Estado. A ligação é explosiva e o passado pode acabar condenando Jair Bolsonaro.
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