Bolsonarismo no Nordeste força partido a escolher se entra numa aliança ampla pela democracia
Bolsonaro está fazendo com êxito o que os tucanos jamais conseguiram — atacar o PT em sua fortaleza do Nordeste. É de lá que tem vindo o apoio responsável pela queda da rejeição ao presidente. Entre os nordestinos, pelo último Datafolha, ela caiu de 52%, em junho, para 35%, na primeira quinzena de agosto. Há indicativos de que Bolsonaro passou a atrair, mesmo fora do Nordeste, os pobres que têm sido eleitores cativos do PT ao longo de várias eleições.
Assim como Lula e PT se tornaram sinônimos de Bolsa Família e programas sociais, começa a acontecer a favor de Bolsonaro algo semelhante. Com o PT em descenso e Lula distante dos holofotes políticos, as famílias pobres nordestinas encontraram no capitão alguém para substituir seu protetor. E de maneira fortuita, pois foi a Covid-19 que ajudou Bolsonaro a descobrir o uso deletério do populismo de Estado para garimpar voto na pobreza.
O discurso da responsabilidade fiscal tende, em tal contexto, a ficar para trás. Só o gasto previsto para os primeiros três meses do necessário auxílio emergencial de R$ 600 beira R$ 152 bilhões. O benefício foi prorrogado para agosto e setembro, e ainda haverá extensão até dezembro, como quer Bolsonaro, por um valor mais alto que o defendido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. O custo da demagogia recém-descoberta irá às nuvens nas asas do Renda Brasil, um Bolsa Família vitaminado, para Bolsonaro chamar de seu.
E o PT? Atingido pelo bolsonarismo em sua zona de conforto, o partido reage de formas múltiplas, ainda sem coerência interna nem estratégia. Lula dissimula, dizendo que, em 2022, o PT poderia apoiar candidato de outra legenda. Fernando Haddad, derrotado por Bolsonaro em 2018, afirmou em entrevista no GLOBO de sábado que seu partido “tem de compreender que existe uma ameaça à democracia que é real”. Cauteloso, porém, afirma que Lula é “maior” que o partido. O governador da Bahia, o petista Rui Costa, se mostrou mais aberto na edição de ontem do GLOBO. Quer atrair DEM e PSDB para uma frente anti-Bolsonaro. Ao mesmo tempo, a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, lançou oficialmente em vídeo o “Mais Bolsa Família”, programa com a garantia de um benefício de R$ 600 para cobrir um universo maior da população — hoje são pouco mais de 13 milhões de famílias ou 40,8 milhões de pessoas. O custo disso? Bem, melhor nem falar...
No campeonato de demagogia entre bolsonarismo e petismo, a conta será impagável. Mas não se pode menosprezar a legenda brasileira com maior identificação no eleitorado, maior capilaridade nacional e mais bem-sucedida nas urnas desde a redemocratização. O PT elegeu dois presidentes para quatro mandatos, tem hoje a maior bancada na Câmara e é o partido que mais controla governos estaduais (quatro, todos no Nordeste). Ninguém derrotará Bolsonaro sem lidar com o PT. Tudo dependerá da estratégia petista. Quem sabe a empreitada bolsonarista não facilite a ampla aliança pela democracia de que tanto se fala?
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