‘Moral money’, ‘ESG’, ‘impacto’, vocábulos,
siglas e expressões que prometem irromper o ano
Uma
boa forma de fazer a retrospectiva do ano é lembrar das palavras que se
tornaram correntes em 2020. Algumas são novas, que incorporamos ao vocabulário.
Outras são ressuscitadas de épocas passadas. Em 2020 tiramos do baú palavras
tristes como “pandemia”, “isolamento”, “máscara” – e outra mais esperançosa,
“vacina”. Há motivo para otimismo, no entanto, quando se olha para alguns dos
vocábulos, siglas e expressões com os quais nos acostumamos ao longo de
2020: “moral money”, “ESG”, “impacto”. Com sorte, essas palavras
boas serão muito usadas ao longo de 2021.
Na
Inglaterra, a expressão “moral money” se popularizou como título de uma das seções do Financial
Times, um dos mais importantes jornais de economia do mundo. No cabeçalho, o
diário londrino explica que “moral money” trata de negócios socialmente
responsáveis, finanças sustentáveis, investimentos de impacto e ESG
(“environmental, social and corporate governance”) – sigla que, de certa forma,
engloba tudo isso.
Tais palavras prometem irromper em 2021 cavalgando números impressionantes. US$ 45 trilhões estão aplicados atualmente em fundos que utilizam estratégias sustentáveis, segundo estimativa do banco Morgan Stanley. Isso significa metade dos investimentos mundiais no mercado financeiro. Há dois anos, data do último levantamento, eram US$ 31 trilhões – número, por sua vez, 34% maior que o de 2016.
Existe
a possibilidade de que parte desses números seja “para inglês ver” – dinheiro
aplicado em ações de empresas que se declaram sustentáveis sem cumprir os
requisitos mínimos. Pois são justamente os britânicos, líderes tradicionais na
área financeira, que irão pagar para ver. No Reino Unido, uma aliança entre o
governo e o setor privado fará um mapeamento de tais fundos, com o objetivo de
classificá-los. O líder da força-tarefa é o português Rodrigo Tavares,
personagem do mini-podcast da semana. Professor de finanças sustentáveis na
Nova School of Business and Economics, ele é um dos maiores especialistas
mundiais no assunto.
Os
trabalhos para a confecção deste ISO das finanças começam já em janeiro, e
seguirão ao longo de 2021, ano em que o assunto “moral money” estará
crescentemente em pauta. No Brasil, “moral money” será o tema recorrente dos
cursos e seminários da Associação Brasileira de Jornalismo Empresarial, a
Aberje – que importará a discussão que explode na Europa. Trata-se daquilo que
os alemães chamam de “zeitgeist”, espírito do tempo.
Faz
parte desse espírito a decisão de grandes empresas de varejo, como Nestlé,
Walmart e Tesco, de não comprar mais grãos de produtores associados ao
desmatamento do cerrado brasileiro. O fato, anunciado na semana passada, foi
lembrado em análise feita pelo site Virtù, editado pelo cientista político Luiz
Felipe D’Avila e referência na área de políticas públicas. O texto aponta uma
queda das vendas do agronegócio brasileiro para o Velho Continente, pondera que
os números brasileiros de desmatamento não permitem acusar os europeus de
protecionismo, e atribui a catástrofe ao “Brasil arcaico que, infelizmente,
possui representantes em Brasília”.
“Desmatamento”, “queimadas”, “Brasil arcaico” – eis outras palavras tristemente recorrentes neste ano. Devemos deixá-las em 2020. O melhor que se pode desejar para 2021 é que, ao final do próximo ano, seja possível encher o espaço desta coluna apenas com palavras boas.
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