Cada
vez que um general na administração pública se revela incompetente ajuda a
destruir a reputação das Forças Armadas
A
Academia Militar das Agulhas Negras é uma escola de ensino superior do Exército
Brasileiro. Copiei essa frase da Wikipédia para não errar na definição. Ensino.
Superior.
Lá
se formam os oficiais de carreira das Armas de Infantaria, Cavalaria,
Artilharia, Engenharia e Comunicações, do Quadro de Material Bélico e do
Serviço de Intendência do Exército. Não é qualquer um que tem acesso à AMAN.
Jovens militares entre 17 e 22 têm que prestar concurso público para a Escola
Preparatória de Cadetes do Exército, onde passam um ano antes de ser admitidos.
O ensino é puxado. Só no primeiro ano, por exemplo, os alunos têm que aprender idiomas estrangeiros, Economia, Estatística, Filosofia, Introdução à Pesquisa Científica, Informática, Língua Portuguesa, Técnicas Militares e Química, entre aulas de tiro e de treinamento físico. Eles têm ainda aulas de Direito e Psicologia no segundo ano e Metodologia do Ensino Superior no terceiro, e concluem os estudos com Direito Administrativo e Relações Internacionais, entre muitas e muitas matérias de cunho especializado.
Eu
não conhecia os detalhes desse currículo até consultar a Wikipédia, mas, como
todo mundo, conhecia a fama da AMAN, tida por formadora de pessoas
disciplinadas e com bons conhecimentos técnicos.
Como
os militares tiveram o bom senso de se manter em low profile depois da
ditadura, muitos brasileiros passaram a acreditar no preparo dos seus generais.
Eles podem não ser democráticos — ninguém que obedece hierarquia às cegas é
inteiramente democrático —, mas imaginava-se que seriam bem preparados.
Bolsonaro
é egresso da Academia Militar das Agulhas Negras, mas não teve sucesso como
militar. Não mancha a imagem das Forças Armadas diretamente, porque elas
tiveram a sorte (ou o bom senso: há divergências) de livrar-se dele a tempo.
Indiretamente,
porém, os danos feitos pela sua eleição são incalculáveis. Cada vez que um
general alçado à administração pública se revela incompetente, ou dá
declarações fora de propósito, ajuda a destruir mais um pouco a reputação que
as Forças Armadas levaram tantas décadas para recuperar.
Nenhum
estrago, porém, se compara ao general Eduardo Pazuello, o “especialista em
logística” que garantiu a pior resposta possível à pandemia — e que garante ao
governo o vexame diário de ver os números da contaminação e da mortalidade
divulgados por um consórcio de empresas jornalísticas, já que nos dados
oficiais é impossível confiar.
Ele
é a desmoralização concreta das FFAA, um homem que não se envergonha de faltar
com a verdade, um estrategista incapaz de fazer uma simples licitação pública
para comprar seringas, um ministro da Saúde que, até agora, não entendeu o que
está acontecendo.
Um
general que derruba, sozinho, o mito da boa preparação dos oficiais superiores
do Exército Brasileiro.
Não
é que não dê para se imaginar como chegou ao ministério: o fraco do presidente
por pessoas inadequadas é bem conhecido. Num governo que tem Ricardo Salles no
Meio Ambiente e Ernesto Araújo nas Relações Exteriores, Eduardo Pazuello faz
todo o sentido na Saúde.
O
que não dá para imaginar é como chegou ao generalato.
É
duro constatar que, enquanto brasileiros morrem asfixiados pela sua
incompetência, seus colegas de farda observam calados.
Tomem tenência, senhores: quem cala é cúmplice.
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