Quem
mudou? O ex-capitão ou o Exército?
E o governo federal faz de conta que mortes por falta de oxigênio no Norte do país é problema dos governos estaduais, que culpam os municipais, que devolvem a responsabilidade aos estaduais, que suplicam em vão por socorro ao federal. Segue o baile.
O
deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, reuniu-se com o
embaixador da China no Brasil. Pediu pressa na remessa de insumos para a
fabricação da vacina chinesa Coronavac. Foi desautorizado em nota pelo governo
federal.
Diz
a nota que é atribuição do governo federal, e só dele, defender os interesses
do país em conversas com representantes de outros governos. Tanto mais em meio
a uma pandemia que matou quase 213 mil pessoas até ontem, das quais 1.381 nas
últimas 24 horas.
Governo
esquisito, este. O presidente Jair Bolsonaro vive dizendo que o Supremo
Tribunal Federal impediu-o de combater a Covid-19, o que é uma mentira. Mas
quando um membro de outro poder da República combate e tenta ajudá-lo, ele
repele.
Vidas
não importam a Bolsonaro, somente política, e logo ele que se apresentou aos
brasileiros há dois anos como o antipolítico por excelência, embora deputado
federal de sete mandatos. O Brasil nunca esteve em pior situação e, o
presidente, idem.
Como
é incapaz de admitir erros, Bolsonaro reuniu seus ministros e cobrou-lhes duas
coisas em termos duros – o que significa uma explosão de palavrões onde “porra”
é o mais leve. A primeira: que defendam o governo. A segunda, que trabalhem
melhor.
A cobrança por um trabalho melhor foi dirigida, principalmente, ao general Eduardo Pazuello, ministro da Saúde. Ora, Pazuello não é médico, não sabia o que era SUS e não se ofereceu para ser ministro. Bolsonaro foi quem o convocou e lhe deu a tarefa.
Como
na caserna missão dada é para ser cumprida, Pazuello perfilou-se, bateu
continência ao chefe das Forças Armadas e encarou o desafio. Afinal, logística
militar é sua especialidade. E uma pandemia se enfrenta também com logística,
certo? Pois.
Cadê
o cargueiro da Força Aérea Brasileira que poderia estar voando para abastecer o
Norte do país com cilindros de oxigênio suficientes para que ninguém morresse?
Foi despachado para uma manobra militar junto com a Força Aérea dos Estados
Unidos.
Cadê
o avião da Força Aérea americana que o governo federal disse que pediria aos
Estados Unidos uma vez que o avião da Força Aérea Brasileira está indisponível?
Trump, o amigo de Bolsonaro, deixou a Casa Branca e não mandou.
O
presidente empossado Joe Biden seria mais sensível a um pedido dessa natureza.
Por que Bolsonaro não pede a ele? Só por que torceu abertamente por sua
derrota? Só por que foi o último chefe de Estado a cumprimentá-lo pela vitória?
Só
por que foi o único chefe de Estado a justificar a invasão do Capitólio por
hordas que Biden batizou de terroristas domésticos? Biden haverá de entender
que, no passado, Bolsonaro planejou jogar bombas em quartéis. Perdeu a farda.
Foi
um momento de fraqueza de Bolsonaro. Faltou-lhe coragem para lançar as bombas.
Contra todas as provas, negou em depoimentos, negou por escrito, negou
pelo mais sagrado que tivesse planejado atos terroristas. O Exército não
acreditou.
Mudou
Bolsonaro ou mudou o Exército que agora confia 100% nele a ponto de um general
da ativa fazer parte do governo? Os gabinetes mais importantes do Palácio do
Planalto são ocupados por generais da reserva. O governo emprega 3 mil
militares.
Bolsonaro
aposta na farda para completar o mandato e conquistar outro. Faltam menos de 88
semanas para a eleição do ano que vem. Que passem rápido, com oxigênio
hospitalar para quem precisa.
O sabotador número 2 das vacinas contra o coronavírus
O
legítimo sucessor do pai
Flávio
Bolsonaro, o senador denunciado por se beneficiar de dinheiro público, perdeu a
voz. E, por temperamento, talvez jamais se prestasse a esse papel.
Carlos
Bolsonaro, o vereador investigado pelo mesmo crime, perdeu o brilho, e de resto
anda muito ocupado em apagar nas redes sociais mensagens que postou em nome do
pai.
Jair
Bolsonaro, o presidente da República que dispensa máscara, já fez por merecer o
título de sabotador número 1 das vacinas. Tal honraria ninguém lhe tomará.
O
sabotador número 2 das vacinas, portanto, é justamente o que você pensa –
Eduardo Bolsonaro, deputado federal, que no passado fritou hambúrgueres e,
agora, frita vidas.
Logo
quando o Brasil está de quatro diante da China porque depende dela para
fabricar vacinas, Bolsonaro voltou a criticar a China pelo atraso no envio
de insumos.
Escreveu
nas redes sociais que a Coronavac, vacina chinesa, não é aplicada nos chineses.
Não disse por quê. Não apresentou provas, mas os Bolsonaro se sentem
dispensados de provar o que dizem.
Justificou
o atraso da vacina que a Índia não se comprometeu a dar ao Brasil, ao contrário
do que anunciara seu pai:
“A vacina que está vindo do Brasil vem da
Índia. Mas como a Índia pode distribuir vacinas sendo que a própria população
ainda não foi vacinada? Existe uma pressão popular que gerou uma instabilidade
que atrasou, e o problema já está sendo resolvido”.
Para
variar, atacou o governador João Doria (PSDB-SP):
“O
presidente sempre deixou claro que assim que a Anvisa chancelasse, não haveria
problema. O problema é que o governador João Doria não queria que a vacina, que
vem da China mas não é aplicada nos chineses, passasse pela Anvisa. E para
piorar ele falava sobre vacinação obrigatória.”
Bateu
também em Luciano Huck:
“Basta
lembrar do apresentador do nariz grande choramingando que nada poderia fazer
para ajudar o oxigênio em Manaus, este é o padrão.”
Sobrou
até para a Secretaria de Comunicação do governo:
“A
comunicação do governo poderia melhorar? Sim, sempre dá para aperfeiçoar tudo.
Mas pense comigo: será que se o governo agisse diferente estes que criticam
estariam elogiando? Adianto a resposta: a esmagadora maioria não”.
Eduardo é uma cópia escarrada do pai, e, dos filhos, o mais interessado em ficar com sua herança política.
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