segunda-feira, 7 de junho de 2021

Irapuã Santana - Desigualdade

- O Globo

Em pesquisa recente da Oxfam Brasil, o brasileiro foi questionado sobre os aspectos que circundam a desigualdade no país.

O relatório traz uma série de informações valiosas. Exemplo: 80% dos brasileiros entendem que, sem a redução das desigualdades, o país não prosperará. O que chama muito a atenção é que essa impressão está correta. O economista Daniel Duque defende que é preciso haver certo nível de desigualdade econômica na sociedade para que ela seja próspera. Para ter ideia, os países nórdicos têm um índice Gini (que mede esse dado) de 0,25, enquanto os EUA giram em torno de 0,4, e o Brasil está com 0,52. O consenso entre os especialistas é que o Gini acima de 0,5 gera um efeito negativo para a economia.

Podemos levantar mais dois pontos que se relacionam com a desigualdade: a meritocracia e o impacto do machismo e do racismo na mobilidade social.

Em 2020, 60% da população discordavam de que “uma pessoa de família pobre que trabalha muito tem a mesma chance de ter uma vida bem-sucedida que uma pessoa nascida rica que também trabalha muito”. Relacionado a esse ponto, 52% dos entrevistados não acreditam que “uma criança de família pobre que consegue estudar tem a mesma chance de ter uma vida bem-sucedida que uma criança nascida numa família rica”. Segundo a literatura especializada, no Brasil, se uma família A é duas vezes mais rica que a B, e ambas têm uma criança, quando elas virarem adultas, a renda da criança A será 70% maior que a da B. O jornalista Felippe Hermes aponta um exemplo impactante: apenas 7% das crianças mais pobres chegam a figurar entre os adultos 20% mais ricos do país. Portanto, não basta se esforçar para conseguir sucesso.

No tocante ao gênero e à raça, a opinião do brasileiro demonstra a conscientização de dois fatores imprescindíveis na equação da desigualdade. Sessenta e sete por cento dos brasileiros concordam que “mulheres ganham menos no mercado de trabalho por ser mulheres”, enquanto a cor da pele influencia a decisão de contratação por empresas, de acordo com a percepção de 76% dos brasileiros.

Mais uma vez, a voz do povo se torna a voz de Deus. Um estudo realizado pela Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul concluiu que, mesmo depois de consideradas todas as características que poderiam influenciar o salário, ainda persiste inexplicado um terço da diferença salarial entre homens e mulheres.

Noutra pesquisa, feita pela Universidade de Chicago, restou demonstrado que negros recebem, em média, 25% menos que pessoas brancas para fazer exatamente o mesmo serviço. Além disso, a chance de um negro obter resposta ao mandar um currículo é metade da chance de uma pessoa branca.

Fica evidente que nossas impressões acerca da sociedade em que vivemos, pelo menos no que diz respeito à desigualdade, estão em harmonia com os especialistas. Faltando colocar tudo em prática e nos movermos para combater aquilo que podemos enfrentar no nosso dia a dia, como o falso discurso meritocrático descontextualizado, o machismo e o racismo.

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