O Estado de S. Paulo
Muitos analistas acreditam que, como meta de longo prazo, 3% de inflação ainda é plausível
Numa das já tradicionais reuniões
trimestrais de economistas do mercado financeiro com diretores do Banco
Central, na semana passada, foi levantado o temor de que, se eleito, o eventual
governo do ex-presidente Lula, a partir de 2023, iria revogar, entre outros
pontos da agenda econômica, a meta de inflação de 3%, estabelecida para 2024.
A meta para 2025 deverá ser fixada pelo
Conselho Monetário Nacional (CMN) em junho. E já se fala que a meta ficará
novamente em 3%, patamar que sempre foi almejado por autoridades de governos
anteriores para convergir com o objetivo perseguido por vários países
emergentes.
O debate entre analistas do mercado é de que, no Brasil, até o teto da meta foi estourado em 2021 e muito provavelmente o será também em 2022. Em 2021, a inflação foi de 10,06%, enquanto o teto da meta era de 5,25%. Já neste ano, a projeção do mercado é de uma inflação de 5,56%, acima do limite superior de 5,0%.
Não seria demasiadamente ambicioso
perseguir uma meta de 3%? Tal objetivo não levaria o BC a elevar os juros mais
energicamente e, com isso, gerar um crescimento econômico menor? Com uma
situação fiscal tão frágil e mecanismos de indexação de preços, teria a
economia brasileira condições estruturais ideais para uma meta de inflação de
3%?
Muitos analistas ainda acreditam que, como
meta de longo prazo, 3% ainda é plausível. O que não exclui se discutir é quão
flexível o regime de metas deve ser em momentos de choques, principalmente
devido a fatores exógenos, isto é, um fenômeno global, como se observa neste
momento.
Nesse contexto, seria razoável adotar, por
exemplo, cláusulas de escape, que desobrigariam o BC a cumprir a meta diante
desses choques afetando a inflação. Mas seria necessário estabelecer requisitos
claros e específicos para acionar a cláusula de escape, caso contrário a perda
de credibilidade seria inevitável.
Há quem defenda que, se um novo governo
recuar e aumentar a meta para acima de 3%, isso seria um sinal de que a
sociedade brasileira voltaria a tolerar uma inflação mais alta de forma mais
permanente. E temem que tal postura poderia deflagrar reajustes de preços antecipados
pelos agentes econômicos como forma de se proteger da inflação, além de
mecanismos de indexação automática, gerando uma bola de neve.
E, como a lei de autonomia do BC incluiu o
objetivo secundário de fomentar o emprego e suavizar as flutuações da atividade
econômica, isso acaba dificultando o cumprimento da meta. Caso contrário, o
custo do combate à inflação poderia ser muito mais amargo.
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