Valor Econômico
Estratégia é rifar Doria depois de abril e
focar nos Estados
A bola da vez na “terceira via” é a
senadora Simone Tebet (MDB-MS). Mulher, preparada, com posições firmes,
discurso afiado, sem escândalos no currículo e, principalmente, com baixa
rejeição, ela é o nome que passou a ser visto por dirigentes de partidos de
centro-direita como alternativa ao ex-juiz Sergio Moro (Podemos), rejeitado
pela classe política, a Ciro Gomes (muito à esquerda, no PDT) e ao governador
João Doria (PSDB) - que, se não chega a ser rejeitado por eles, tampouco
desperta simpatias.
Atente-se, aqui, que a expectativa desses dirigentes não é de vitória. Todos creem que a Presidência será ocupada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou Jair Bolsonaro (PL) em 2023. A polarização estaria consolidada e vários deles citam que quase 60% dos eleitores respondem nas pesquisas espontâneas que já escolheram votar em um dos dois. Isso antes mesmo de serem informados sobre quem são os candidatos, o que aponta grau maior de convicção na escolha, e que é algo inédito tantos meses antes da eleição.
Dirigentes do MDB, PSD, União Brasil,
Cidadania e até do PSDB entendem que é cedo para apoiar um dos dois. A adesão,
se ocorrer, será no segundo turno. Na primeira etapa da campanha é preciso
tentar construir um nome próprio, que ajude ou, pelo menos, não atrapalhe a
eleição de governadores, senadores e deputados. MDB e PSD, por exemplo, tem
divergências entre os diretórios mais ao sul, bolsonaristas, e mais ao
Norte/Nordeste, lulistas. Aderir a um dos dois, nesta etapa, provocaria
fissuras profundas.
É para evitar esse racha que surgiram
candidaturas como a de Tebet e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco
(PSD-MG), que está em vias de anunciar sua desistência. O dirigente de um
desses partidos explica: “Ela é novidade. Se a campanha for bem feita, e com um
milagre, pode ser eleita. Se não der certo, não atrapalha as demais
candidaturas. E ainda projeta o nome dela para o futuro e nos dá espaço para
negociar no segundo turno”.
Já Doria é uma “bola de ferro” para os
candidatos ao Legislativo e nos Estados, segundo essa lógica. Não há o fator
“novidade” e ele é odiado por bolsonaristas e petistas. Também tem a imagem de
“marqueteiro” e alguém da elite paulista contra dois candidatos que esforçam
para parecer do povo. Fazer campanha ao lado dele pode tirar votos desse
eleitor que se identifica com Lula ou Bolsonaro, mas que poderia optar por
votar num candidato do “Centrão” a deputado que seja da sua cidade. Doria é um
peso que nenhum deles quer carregar.
A senadora não desperta sentimentos,
positivos ou negativos, como os demais. É desconhecida da maioria dos eleitores
e, também por isso, tem hoje a menor rejeição entre os candidatos. Parte daí a
ideia de que pode surpreender. Se isso não ocorrer, também não atrapalha. Pedir
voto para ela não é um problema e não tira voto de ninguém. E, lógico, um
candidato azarão permite mais facilmente traições - ou alguém acha que o clã
Calheiros (MDB-AL) pedirá voto para outro que não Lula?
Doria deixará o governo em 2 de abril para
ser pré-candidato à Presidência. Será alvo de forte bombardeio interno e
externo para desistir, inclusive da cúpula do partido. Parte dos tucanos espera
só a faixa chegar em Rodrigo Garcia (PSDB) para intensificar esse movimento e
tentar forçar a composição com Tebet. Ela na cabeça de chapa, alguém do PSDB na
vice.
Seria uma forma também de candidatos do
PSDB a outros cargos terem fatia maior do fundo eleitoral para suas próprias
campanhas.
Um tucano paulista pondera que o apoio a
Doria tem se limitado ao “grupo do Palácio dos Bandeirantes”. “E tudo que eles
querem é que o processo ocorra sem turbulências até o fim de março. Todos lá
acham que Garcia tem mais chances de reeleição para o governo de São Paulo do
que Doria”, conta.
Num gesto contrário a consolidação de uma
terceira via única, capaz de excluir Bolsonaro do segundo turno, o presidente
do PSD, Gilberto Kassab, trabalha por um nome próprio. Ele faz acenos ao PT e
indica apoio a Lula após o primeiro turno, se colocando na frente da fila para
um ministério em 2023, mas já está apalavrado com o governador do Rio Grande do
Sul, Eduardo Leite (hoje no PSDB), para disputar à Presidência.
Kassab foi o primeiro a construir essa
estratégia de candidato desconhecido para agradar as hostes lulistas e
bolsonaristas de seu partido. O movimento não deu certo lá atrás e Pacheco
estagnou, mas há quem veja na insistência uma jogada com Lula para pulverizar a
terceira via e garantir o confronto dos sonhos para o PT no 2º turno.
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Sobre Leite, vale lembrar o que ele mesmo
disse: Outubro. Num evento com o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta
(DEM) e com Doria, defendeu que eles não podiam “colocar a vaidade acima de
qualquer outro interesse que não seja de um país que se reencontre com a
sensatez ”. “Certamente não faltam oportunidades para o Doria, como não faltam
para mim, de ofertas de buscar outros caminhos que garantam uma candidatura.
Mas a gente não quer garantir uma candidatura para atender a nossa vaidade, a
gente quer discutir projeto”, disse.
Novembro. Dias depois de perder as prévias
para Doria, voltou a pregar que o PSDB precisava estar aberto a retirar a
candidatura caso surgisse outra que aglutinasse mais. “Se houver alguém que
melhor condições tiver de se viabilizar a uma alternativa a Lula e Bolsonaro,
entendo que nós precisamos estar abertos a essa discussão. Espero que o João
Doria tenha essa mesma disposição de dialogar”, disse.
Fevereiro. Tentado pela possibilidade de ser
presidente, deve abrir mão dos últimos nove meses do mandato para um projeto
solo à Presidência. “Passar um cavalo encilhado já não é fácil. Passar dois,
não dá pra gente desprezar”, disse. O tom foi de brincadeira, mas o acerto com
o PSD, não. A ira que está provocando até em seus aliados no PSDB, tampouco.
“Mau perdedor”, “imaturo” e “personalista” viraram palavras comuns entre seus
detratores e seus (ex-)apoiadores no PSDB.
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