Folha de S. Paulo
Protesto contra governador em MG reacende
alerta de politização das forças de segurança
O país parece ter se acostumado a ver policiais
fazendo política dentro e fora dos quartéis. No início da semana, agentes
em Minas Gerais organizaram um protesto contra o governador Romeu Zema para
cobrar um aumento salarial anunciado no início do mandato. As entidades que
representam as categorias ameaçam fazer uma paralisação.
A tranquilidade com que os agentes foram às ruas reflete um lento processo de desestabilização das forças de segurança em muitos estados. Zema cometeu uma barbeiragem ao prometer um reajuste que não teria como pagar, mas a lei proíbe greves de policiais porque é preciso proteger até o governante mais inábil da pressão de homens armados.
O caso de Minas é uma obra coletiva. Dias
antes do protesto contra o governador, o comandante-geral da PM mineira liberou
a participação dos agentes e disse que defenderia os interesses da corporação.
Zema fingiu não ver nenhuma quebra de hierarquia naquele episódio e afirmou que
a manifestação dos homens da segurança era "absolutamente legítima".
Policiais se sentem livres para ignorar
princípios básicos porque recebem apoio no mundo político. No fim do ano
passado, a Assembleia Legislativa de Minas anistiou os agentes militares
punidos por uma greve em 1997. No protesto da última segunda (21), dois
deputados bolsonaristas pegaram carona no ato e subiram no palanque dos manifestantes.
A milhares de quilômetros de Belo
Horizonte, governadores entraram em alerta. Diversos estados concederam ou
negociam aumentos para as forças de segurança, mas ainda enxergam um interesse
contínuo de agentes políticos na exploração de tensões com as polícias.
A preocupação se torna mais aguda neste ano
eleitoral. Inimigo declarado de boa parte dos governadores, Jair Bolsonaro
trabalhou ao longo dos últimos anos para reforçar seu vínculo com policiais nos
estados. Para um presidente que sofre de delírios autoritários, ter
tropas a seu lado é um fator essencial.
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