Folha de S. Paulo
Só falta o presidente trocar frentistas dos
postos para ver se o preço dos combustíveis cai
Jair Bolsonaro telegrafou a
demissão do ministro de Minas e Energia. Na semana passada, o presidente
citou nominalmente o almirante Bento Albuquerque e o chefe da Petrobras, José
Mauro Ferreira Coelho, e mandou um recado, aos gritos: "Vocês não podem
aumentar o preço do diesel! Eu não estou apelando, eu estou fazendo uma
constatação".
Quatro dias depois do ultimato, a estatal
anunciou mais uma alta do combustível. Passados mais dois dias, o ministro
perdeu o cargo.
O presidente busca uma válvula de escape para os danos políticos provocados pelos aumentos. Na ausência de um plano eficiente para o setor, Bolsonaro já demitiu dois presidentes da Petrobras e, agora, o ministro da área. Nesse ritmo, falta trocar os frentistas dos postos de combustíveis, para ver se os preços caem.
As jogadas de Bolsonaro transmitem um certo
desespero. Principal medida do governo para os combustíveis, o corte de
impostos federais teve efeito limitado nas bombas. O mesmo ocorreu com manobras
menos ortodoxas, como a pressão sobre donos de postos e até a ideia de que
moradores deveriam alugar
caminhões para distribuir botijões de gás em suas comunidades.
Agora, o presidente reforça os ataques à
própria Petrobras e simula indignação com os lucros da empresa. Entre
acusações de "estupro" e alertas de que a estatal quebraria
o país, não se ouviu de Bolsonaro nenhum projeto consistente para uma nova
política de preços dos combustíveis.
Em vez de lançar um programa com resultados
incertos a cinco meses da eleição, o presidente aposta em investidas cosméticas
e retóricas. O governo tenta amortecer o impacto político de uma
inflação que galopa na casa dos 12% e segurar os humores de um
eleitorado cada
vez mais sensível à variação de preços.
Ainda que o plano A de Bolsonaro não seja
vencer nas urnas, o presidente ainda precisa manter popularidade e chegar à
votação como um candidato competitivo. Ele sabe que uma derrota acachapante
eliminaria o apoio a qualquer tipo de ruptura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário