O Estado de S. Paulo
Alguém ainda leva a sério a indignação do
presidente Jair Bolsonaro com o critério de preços adotado pela Petrobras? A
Bolsa e o mercado financeiro começam a ignorar.
Já foram sacrificados três bodes
expiatórios por conta desse teatro: dois presidentes da Petrobras, Roberto
Castello Branco e Joaquim Silva e Luna e, agora, o ministro de Minas e Energia,
Bento Albuquerque.
O maior indício de que Bolsonaro apenas finge indignação é o fato de que seus ministros não o acompanham nesse jogo. Alguém já ouviu alguma declaração do ministro Paulo Guedes que endosse as declarações de Bolsonaro de que “o lucro da Petrobras é um estupro”? Nem tampouco Bento Albuquerque tocou a mesma partitura. Tanto não tocou, que está demitido.
Há fortes razões para acreditar que o
governo Bolsonaro está satisfeito com os benefícios que obtém da política de
paridade internacional de preços.
Os polpudos dividendos, royalties e receita
com impostos pagos pela Petrobras são diretamente proporcionais aos preços
praticados por ela. Desde 2019 foram nada menos que R$ 447 bilhões que
proporcionaram grande alívio ao caixa do Tesouro. Se a indignação de Bolsonaro
fosse sincera, teria nomeado para a Petrobras presidentes comprometidos com o
controle de preços e teria usado os recursos pagos pela companhia para pagar
subsídios aos caminhoneiros e consumidores de gasolina.
Bolsonaro finge que é vítima da Petrobras
porque não quer a vinculação da alta de preços dos combustíveis com sua
campanha eleitoral.
O pré-candidato do PT à Presidência da
República, Luiz Inácio Lula da Silva, nesse particular, pensa igualzinho a
Bolsonaro. Não chega a dizer, como ele, que “o lucro da Petrobras é crime”, mas
tem afirmado que, se eleito, “abrasileirará os preços da Petrobras”, embora não
diga como.
Qualquer outro critério que viesse a ser
adotado implicaria não só artificializar a política de preços dos combustíveis,
como, também, afastaria os investidores nas cinco refinarias, que têm de ser
vendidas por imposição do Cade.
Um controle de preços dos combustíveis,
como querem Bolsonaro e Lula, produziria distorções. A mais importante delas seria
o praticamente inevitável certo desabastecimento, uma vez que cerca de 20% dos
combustíveis, especialmente o diesel, são importados a cotações do mercado
internacional.
O atraso dos preços internos calculados nesta quartafeira é de 17% para a gasolina e de 13% para o diesel, como mostra o gráfico. Por isso, vêm aí mais reajustes. Quantas cabeças ainda terão de rolar para dar conta da cólera do presidente Bolsonaro?
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