O Globo
Índice de atividade aponta novo recuo em
junho e economia depende de estímulos para evitar recessão
Depois de um início de ano que surpreendeu
para melhor, vários indicadores da economia brasileira estão mostrando
desaceleração mais acentuada no segundo trimestre. O índice de atividade do
Banco Central (IBC-Br), por exemplo, ficou negativo nos meses de abril e maio,
e ontem o Bank of America (BofA) divulgou o seu próprio índice, que mostrou
nova queda em junho, de 0,41%. O governo conta com os estímulos fiscais para
mudar o quadro até as eleições e já colheu os frutos da pressão política sobre
a Petrobras, que rapidamente reduziu os preços da gasolina.
Segundo David Beker, chefe de estratégia para América Latina do BofA, o aumento dos juros pelo Banco Central começou a chegar na ponta, levando a uma piora das condições financeiras no país. Os setores automobilístico e de bens de consumo duráveis são os mais afetados. Além disso, houve queda da confiança dos consumidores e empresários, e o ambiente externo ficou mais volátil, com o aperto monetário pelo BC americano.
“A economia começou o ano com efeito positivo
do setor de commodities, que beneficiou produtores do Brasil, além da volta da
circulação de pessoas, que ajudou o setor de serviços. Contudo, com a piora do
ambiente externo e o aumento dos juros, esperamos alguma desaceleração”,
afirmou Beker.
Depois de uma forte alta de 1% no primeiro
trimestre, a projeção do Bank of America é de desaceleração para 0,3% no
segundo tri. Muitos economistas davam como certa uma contração da atividade no
período eleitoral. O que deve evitar esse quadro são os estímulos aprovados
pelo Congresso — com o apoio da oposição — que podem injetar R$ 41 bilhões na
economia em poucos meses e alavancar o consumo.
O governo também aposta em uma queda
pontual da inflação nos meses de julho e agosto. Após a redução dos
combustíveis, com a limitação do ICMS, a equipe econômica teve ontem outra boa
notícia. A nova diretoria da Petrobras não perdeu tempo e reduziu a gasolina em
4,9%, depois de sete dias de paridade acima do mercado internacional. Como
mostra o gráfico, desde a última alta, em 18 de junho, os preços internos
chegaram a ficar 14 dias abaixo da paridade, sem que houvesse novos reajustes.
As ações da empresa subiram 2,03%, porque o
dia foi de alta nas bolsas mundiais e o mercado entendeu que o movimento
diminui a pressão política sobre a estatal. O curioso é que a Petrobras não
alterou o preço do diesel, que, pelas contas do Credit Suisse, está 4% mais
baixo no Brasil do que no resto do mundo. O objetivo, claramente, foi agradar
ao governo. Depois do anúncio da Petrobras, o JP Morgan reduziu de 7,6% para
7,4% sua estimativa de inflação.
Com a economia perdendo fôlego, o governo
usa todos os artifícios que pode para ter algum respiro até outubro.
Risco institucional
O economista Luis Otávio Leal, do banco
Alfa, acha que os estímulos e a queda da inflação podem tirar o favoritismo de
Lula na reta final da campanha. Se houver disputa acirrada, diz, aumenta o
risco de Bolsonaro contestar o resultado: “O discurso de Bolsonaro indica que,
quanto mais acirrada for a disputa, maior a chance de haver contestações. Como
consequência, aumentam as chances de crise institucional. Esse não é o nosso
cenário base, mas, se existe possibilidade de ocorrer, tem que estar refletido
nos ativos, notadamente no dólar”. O discurso aos embaixadores aumentou o
risco.
Juros em alta
O Tesouro fez novo leilão de títulos e
percebeu mais uma vez o mau humor do mercado com o país: o volume de compra foi
o segundo mais baixo do ano e os títulos com vencimento em 2060 só foram
vendidos pagando juros reais altos, acima de 6%.
Energia limpa
A energia solar assumiu a terceira posição
na matriz brasileira. Segundo a Absolar, a potência instalada fotovoltaica
agora chega a 8,1%, atrás das fontes eólica (10,8%) e hídrica (53,9%).
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