quarta-feira, 20 de julho de 2022

Alvaro Gribel - PIB perde força e espera estímulos

O Globo

Índice de atividade aponta novo recuo em junho e economia depende de estímulos para evitar recessão

Depois de um início de ano que surpreendeu para melhor, vários indicadores da economia brasileira estão mostrando desaceleração mais acentuada no segundo trimestre. O índice de atividade do Banco Central (IBC-Br), por exemplo, ficou negativo nos meses de abril e maio, e ontem o Bank of America (BofA) divulgou o seu próprio índice, que mostrou nova queda em junho, de 0,41%. O governo conta com os estímulos fiscais para mudar o quadro até as eleições e já colheu os frutos da pressão política sobre a Petrobras, que rapidamente reduziu os preços da gasolina.

Segundo David Beker, chefe de estratégia para América Latina do BofA, o aumento dos juros pelo Banco Central começou a chegar na ponta, levando a uma piora das condições financeiras no país. Os setores automobilístico e de bens de consumo duráveis são os mais afetados. Além disso, houve queda da confiança dos consumidores e empresários, e o ambiente externo ficou mais volátil, com o aperto monetário pelo BC americano.

“A economia começou o ano com efeito positivo do setor de commodities, que beneficiou produtores do Brasil, além da volta da circulação de pessoas, que ajudou o setor de serviços. Contudo, com a piora do ambiente externo e o aumento dos juros, esperamos alguma desaceleração”, afirmou Beker.

Depois de uma forte alta de 1% no primeiro trimestre, a projeção do Bank of America é de desaceleração para 0,3% no segundo tri. Muitos economistas davam como certa uma contração da atividade no período eleitoral. O que deve evitar esse quadro são os estímulos aprovados pelo Congresso — com o apoio da oposição — que podem injetar R$ 41 bilhões na economia em poucos meses e alavancar o consumo.

O governo também aposta em uma queda pontual da inflação nos meses de julho e agosto. Após a redução dos combustíveis, com a limitação do ICMS, a equipe econômica teve ontem outra boa notícia. A nova diretoria da Petrobras não perdeu tempo e reduziu a gasolina em 4,9%, depois de sete dias de paridade acima do mercado internacional. Como mostra o gráfico, desde a última alta, em 18 de junho, os preços internos chegaram a ficar 14 dias abaixo da paridade, sem que houvesse novos reajustes.

As ações da empresa subiram 2,03%, porque o dia foi de alta nas bolsas mundiais e o mercado entendeu que o movimento diminui a pressão política sobre a estatal. O curioso é que a Petrobras não alterou o preço do diesel, que, pelas contas do Credit Suisse, está 4% mais baixo no Brasil do que no resto do mundo. O objetivo, claramente, foi agradar ao governo. Depois do anúncio da Petrobras, o JP Morgan reduziu de 7,6% para 7,4% sua estimativa de inflação.

Com a economia perdendo fôlego, o governo usa todos os artifícios que pode para ter algum respiro até outubro.

Risco institucional

O economista Luis Otávio Leal, do banco Alfa, acha que os estímulos e a queda da inflação podem tirar o favoritismo de Lula na reta final da campanha. Se houver disputa acirrada, diz, aumenta o risco de Bolsonaro contestar o resultado: “O discurso de Bolsonaro indica que, quanto mais acirrada for a disputa, maior a chance de haver contestações. Como consequência, aumentam as chances de crise institucional. Esse não é o nosso cenário base, mas, se existe possibilidade de ocorrer, tem que estar refletido nos ativos, notadamente no dólar”. O discurso aos embaixadores aumentou o risco.

Juros em alta

O Tesouro fez novo leilão de títulos e percebeu mais uma vez o mau humor do mercado com o país: o volume de compra foi o segundo mais baixo do ano e os títulos com vencimento em 2060 só foram vendidos pagando juros reais altos, acima de 6%.

Energia limpa

A energia solar assumiu a terceira posição na matriz brasileira. Segundo a Absolar, a potência instalada fotovoltaica agora chega a 8,1%, atrás das fontes eólica (10,8%) e hídrica (53,9%).

 

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