Nada mais enganoso que essa aritmética absolutizada, mesmo que esteja assinada por um grande instituto de pesquisa. Existem mais de 100 no Brasil. Alguns copiando os resultados dos outros, e alguns vendendo opiniões. Assim, foi em eleições anteriores e, nesta próxima, não parece diferente.
As indicações de resultados prévios entre Aécio e Dilma, Bolsonaro e Haddad e em alguns estados marcaram grandes enganos das pesquisas. O candidato que lidera as pesquisas, na maioria dessas disputas é quase sempre atropelado no final, embora até o última momento as pesquisas o indiquem como potencial vencedor. Em geral, os institutos de pesquisa concentram-se em dois dos candidatos com melhores resultados, com vistas a um segundo turno ou não. Há pesquisas tendenciosas cujas conclusões vem acompanhadas da afirmação - verdadeira pregação - de que” Não haverá nem segundo turno!".
Esquecem-se dos votos dos candidatos pouco citados, dos votos nulos e brancos - já chegaram a 20 % dos votantes -, dos indecisos que podem mudar o voto na última hora (está ainda em 4 %) e dos ausentes. Somados chegam a milhões de eleitores. Existem estudos no campo da política eleitoral, mostrando que, o número de votos perdidos pelo eleitorado é maior que os conquistados pelos eleitos: em geral, mais de 50 %. Dir-se-ia que se trata de uma performance democrática.
Fiquem atentos. Pesquisas indicam tendências, dificilmente apontam, por antecipação, vitoriosos. Ajudam a nortear campanhas. Elas se aproximam de alguns resultados, mas não conseguem captar no cenário real os acasos e as incertezas no comportamento humano. Nunca se sabe tudo da pesquisa, embora, por exigência do TSE, ao serem registradas, as pesquisas são obrigadas a revelar os métodos usados, o período e os objetivos a serem alcançados.
Os maiores interessados em conhecer resultados prévios das pesquisas eleitorais são os empresários, atentos ao futuro da economia e, por extensão, dos seus negócios. Mal concluída uma eleição, os políticos distribuem os cargos para os cabos eleitorais, e já estão preocupados com a próxima. Os empresários não são assim. Para eles, cada eleição é um drama ou uma solução para os investimentos. Por isso, financiam pesquisas eleitorais, como álibi, para conhecer as tendências e fazer projeções sobre a nova política econômica. Daí aqueles financiamentos de campanha tentando fortalecer os candidatos que mais compactuam com seus propósitos empresariais ou os que mais tem chance de sair vitoriosos das eleições.
Os empresários não estão nem aí para os partidos. O fulano, sendo eleito, vai abrir a economia à busca do desenvolvimento, conceder estímulos e isenções fiscais; o outro vai exercer um controle fiscal rigoroso para equilibrar as contas públicas e os empresários e empreendimentos em andamento serão suas vítimas. A equação é simples. O resto é pantomina. Por isso as mudanças no Brasil são lentas: Primeiro o meu, depois o do Abreu.
Após a eleição de Obama nos Estados Unidos, amparada nas redes sociais digitais, houve grandes mudanças na estrutura das campanhas, mas por aqui centenas de candidatos ainda dependem da propaganda analógica e dos Correios para comunicar-se com os eleitores. Se este for o caso, não confie que terá êxito. As pesquisas tem seus problemas e nos Correios existe uma militância não expressa que interrompe qualquer processo eleitoral. Ninguém sabe, ninguém viu: o certo e que a correspondência eleitoral - pesquisas, cartas, folders, santinhos e até cartazes costumam não chegar, ou se chegam, os prazos já venceram. Existem regras, manuais operacionais, mas os servidores são distópicos, agem organicamente, quase sempre em sentido contrário, acho que nem sempre por opção ideológica, mas disposição mesmo para o trabalho. Tem regras e ritmos próprios.
Na verdade, pesquisas eleitorais são mesmo é um bom negócio, quando não trabalham para candidatos caloteiros. Quase todos o são. Se perdem a eleição, não pagam as contas. A Rede Globo conseguiu, certa vez, financiamento para acompanhamento prévio do resultado das eleições presidenciais no Brasil, fazendo boca de urna (proibida) nas maiores cidades do País. Usou duas estratégias: selecionou aqueles colégios eleitorais mais representativos e ouviu o eleitor no momento em que ele acabava de dar seu voto. Resultado: acertou em cheio, e divulgou o resultado no mesmo dia, usando inclusive seus comentaristas políticos para dar legitimidade pública. Onde chegamos: o sistema Globo esteve próximo de dirigir o País. Seus proprietários, diretores, repórteres, atores e atrizes ainda são cortejados por aí
Foi o maior vexame para o TSE, que demorava quase uma semana para anunciar os resultados das eleições. Digamos que esses eventos não mais seriam possíveis, e que as pesquisas que estão sendo divulgadas até agora são todas duvidosas: Lula tem 42 % dos votos; Bolsonaro, 36%, Ciro tem 9%, a Tebet (de um dos maiores partidos do País) 4%. O Data Folha divulgou recentemente uma nova provocação: 12 %, pelo menos, do eleitorado decide mesmo em quem votar quando está, de fato, em frente ao desafio de uma urna. Fiquem espertos. Até aqui a aritmética não bateu.
*Jornalista e professor
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