Correio Braziliense
O grupo pró-Lula ainda busca convencer
Temer a aceitar a aliança, mas isso depende de uma iniciativa pessoal do
petista, que mantém distância do ex-presidente por causa do impeachment de
Dilma
A uma semana da convenção eleitoral do MDB,
a candidatura da senadora Simone Tebet (MS) à Presidência da República vive uma
semana decisiva, com muitas articulações políticas contrárias, mas em condições
de derrotar a ofensiva dos caciques do MDB que desejam remover sua candidatura
e apoiar o ex-presidente Luiz Inácio lula da Silva já no primeiro turno. Na
segunda-feira, 11 representantes de diretórios regionais, a maioria do
Nordeste, se reuniram com o PT para consolidar a dissidência que apoia Lula.
Ontem, o ex-presidente Michel Temer e o presidente da legenda, deputado Baleia
Rossi (SP), com apoio de 19 diretórios, reafirmaram a candidatura. A conta não fecha.
São 27 diretórios.
Os senadores Eduardo Braga (AM), Renan Calheiros (AL), Veneziano Vital do Rêgo (PB), Rose de Freitas (ES) e Marcelo Castro (PI); o governador de Alagoas, Paulo Dantas; e os ex-senadores Eunício Oliveira (CE) e Edison Lobão (MA), além do presidente do diretório estadual do MDB no RJ, Leonardo Picciani, participaram do encontro com Lula. O governador do Pará, Helder Barbalho, e o ex-senador Garibaldi Alves (RN), aliados do petista, não compareceram.
Ontem, Eduardo Braga, Renan Calheiros, Rose
de Freitas, Marcelo Castro, o deputado federal Isnaldo Bulhões (AL) e o
ex-governador Moreira Franco (RJ) se reuniram com Temer, no seu escritório, no
Itaim Bibi, em São Paulo. O ex-presidente é uma peça-chave no tabuleiro das
relações entre os caciques emedebistas. Até agora, o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva vem trabalhando para dividir o MDB e não procurou Temer,
principalmente por causa dos ressentimentos petistas em razão do impeachment da
presidente Dilma Rousseff.
Temer anda descontente com a situação da
candidatura de Simone Tebet, que não decolou nas pesquisas. A senadora
pantaneira, porém, se beneficiou diretamente do fato de a cúpula do PSDB ter
removido a candidatura do ex-governador João Doria e desistido da chapa
própria. O Cidadania, liderado por Roberto Freire, que integra a federação com
o PSDB, é a única legenda que se engajou na candidatura de Tebet, apesar de
alguns deputados de sua bancada se fingirem de mortos. O PSDB, cuja cúpula
chegou a anunciar o apoio a Tebet, não se mobiliza para a campanha da
emedebista. Os tucanos vivem um salve-se quem puder, especialmente em São
Paulo, onde o governador Rodrigo Garcia está em dificuldade para se reeleger.
Um balanço da situação interna do MDB
mostra, porém, que Tebet ainda tem o apoio da maioria dos estados e
dificilmente sua candidatura seria deslocada sem uma negociação muito ampla com
o PT, para atrair Temer, o que é improvável. Uma ala que apoia a candidatura do
presidente Jair Bolsonaro também não tem força para impor essa orientação. Por
essa razão, prefere manter a candidatura de Tebet e barrar o apoio formal a
Lula, o que daria muito tempo de televisão ao petista.
Rubicão
Segundo o senador Eduardo Braga, que lidera
a dissidência, o grupo ainda não tem posição definida sobre como pretende se
comportar na convenção. As disputas no MDB costumam ser resolvidas na base da
Lei de Murici, “cada um cuida de si”. O partido é uma federação de grupos
regionais, cujas lideranças convivem na divergência há muitos anos. De um lado,
o grupo do ex-presidente José Sarney e de Renan Calheiros, aliados de Lula
desde 2002; de outro, o grupo de Michel Temer e Moreira Franco, que se aliou a
Lula em 2006 e fez parte da chapa de Dilma Rousseff em 2010 e 2014. Em 2016,
Temer e Moreira romperam com Dilma Rousseff e aderiram às articulações do
impeachment, o que a cúpula petista não perdoa.
A sete dias da convenção, o grupo pró-Lula
ainda busca convencer Temer a aceitar a aliança, mas isso depende de uma
iniciativa pessoal e pública de Lula, que mantém distância regulamentar do
ex-presidente da República. A sorte de Tebet, mesmo estagnada nas pesquisas, é
que o MDB também gosta de cristianizar seus candidatos, como fez com Ulysses
Guimarães, em 1989; Orestes Quércia, em 1994; e mais recentemente, em 2018, com
Henrique Meirelles.
A candidata do MDB ainda tem condições de
tentar crescer nas pesquisas. Tebet é leve nas ruas, onde não é hostilizada,
podendo circular nos eventos sem grandes aparatos, o que não acontece com
Bolsonaro nem com Lula. Mesmo Ciro Gomes, candidato do PDT, tem mais
dificuldades que ela, quando nada porque não leva desaforo para casa ao sofre
provocações de petistas e bolsonaristas.
A convenção do MDB, marcada para o dia 27, será virtual. É um jogo de cartas marcadas, ou seja, a favor de Tebet ou contra ela, tudo será acertado antes. Do ponto de vista de sua candidatura, é um Rubicão, porque isso garantirá acesso ao tempo de radio e televisão quando a propaganda política começar para valer, em 15 de agosto. A distribuição de tempo entre os principais candidatos será a seguinte: Lula (PT) terá 3 minutos e 10 segundos a cada um dos dois blocos de 12 minutos e 30 segundos; Bolsonaro (PL), 2 minutos e 50 segundos; Bivar (União Brasil), 2 minutos por bloco; Simone Tebet (MDB), 1 minuto e 50 segundos; e Ciro Gomes (PDT), 50 segundos.
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