O Estado de S. Paulo
MDB fica entre o protagonismo de lançar Simone Tebet à Presidência e o retorno à ‘zona de conforto’
Empreender é sinônimo de desafiar... de inovar... de criar valor. Mas empreender também envolve assumir riscos. Pode-se ganhar muito, mas também perder muito. É preciso estar preparado e, acima de tudo, ter coragem.
O MDB tem apresentado uma trajetória bastante inusitada.
Foi criado em 1965 como consequência do Ato Institucional número 2 que
extinguiu o multipartidarismo e instituiu o bipartidarismo. Funcionou durante a
ditadura como uma espécie de “guarda-chuva” das forças que lutaram contra o
regime autoritário e pela redemocratização.
Exerceu um papel de protagonista na
transição para a democracia ao construir uma aliança com o PFL em torno da
candidatura de Tancredo e Sarney, que veio a ser vitoriosa nas eleições
indiretas no colégio eleitoral em 1985. Como consequência, obteve os maiores
retornos gerados pelo mercado político.
Após ter disputado a presidência em 1989 (Ulysses Guimarães) e 1994 (Orestes Quércia) com desempenhos melancólicos, o MDB enfrentou perdas consideráveis de poder e de recursos.
Como resultado, nas cinco eleições
subsequentes o MDB ajustou as suas ambições e priorizou a trajetória
legislativa se transformando em um partido coadjuvante pivô das coalizões dos
governos FHC, Lula e Dilma, o que proporcionou retornos intermediários.
Mas, com o impeachment da ex-presidente
Dilma em 2016, Michel Temer assumiu a presidência e o MDB foi mais uma vez
alçado à condição de partido protagonista, fazendo com que seus retornos
mudassem de patamar.
Nas eleições de 2018, o MDB se manteve
nessa trajetória majoritária com a candidatura de Henrique Meirelles, mas novamente
teve um desempenho eleitoral pífio, reduzindo drasticamente seus retornos. E, o
que é pior, viu o Centrão ocupar a posição de pivô legislativo do governo
Bolsonaro, papel que costumava exercer no passado.
Nesta quarta-feira, dia 27 de julho, o MDB
vai mais uma vez se defrontar com a sua história, quando terá a chance de
definir se a senadora Simone Tebet será
sua candidata a presidente. E mais que isso, se ela terá apoio efetivo do
partido ou será apenas “cristianizada”.
A hesitação de parcela do MDB em apoiar a
candidatura de Simone à Presidência é reflexo direto da história do partido que
viveu altos e baixos ao longo desses anos.
Será que o MDB terá coragem para buscar seu
lugar ao sol e perseverar no caminho do empreendedorismo político ou a tibieza
o fará sucumbir à tentação de retornar à sombra de uma “zona de conforto” de
uma trajetória legislativa?
*Cientista político e professor titular da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE)
Um comentário:
Meu pai era manda brasa,a família inteira,diga-se.
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